O hiato entre varejo e indústria

origemAcredito que o gráfico ao lado fala por si só. Existe um hiato consistente entre as vendas no varejo e a produção industrial. Esse descolamento entre oferta e demanda, citado na ata do Copom de ontem, tem sido responsável pela difusão da inflação e é um sintoma da política monetária expansionista que venho citando nos últimos dois posts. Esse hiato, infelizmente, não será resolvido com a mudança de patamar nos juros ou no câmbio, como quiseram economistas ligados ao governo ao longo do ano passado. Caso o governo não coloque uma agenda de reformas na pauta do Parlamento, continuaremos perdendo competitividade e outros remendos terão de ser feitos para tentar reduzir esse  gap.

O gráfico ilustra um fato interessante também: não basta gerar "demanda efetiva", tão ao gosto de muitos economistas ligados ao governo. No início do processo de crescimento é necessário que você tenha demanda por bens e serviços. Isso faz com que os empresários ocupem capacidade ociosa e invistam. Entretanto, para que essa "cadeia de eventos" se complete é preciso que haja previsibilidade no horizonte. O empresário, afinal, não se comprometerá em comprar mais máquinas e equipamentos ou construir novos prédios - aumentando a taxa de investimento - se não observar previsibilidade no cenário econômico. E isso, como parecem não perceber os economistas ligados ao governo, inclui previsibilidade da própria política econômica. Não basta, portanto, que haja demanda efetiva ou "preços ajustados", como câmbio e juros; é preciso que a própria política econômica não mude a todo instante. É esse fato básico da teoria econômica, construído ainda na década de 70, que os economistas ligados ao governo parecem não perceber - ou entender.

Não há problemas no lado da demanda, afinal. O Consumo das Famílias cresceu 3,1% em 2012, um número bastante razoável. O que existem são sérias restrições do lado da oferta, que fazem, por exemplo, estagnar a produção industrial, como mostra o gráfico acima. No resultado do PIB, a Indústria caiu 0,8% e a Formação Bruta de Capital Fixo despencou 4%. Ou seja, aquela cadeia de causalidade não está se completando. E isso tem muito mais a ver com problemas domésticos do que propriamente com a crise externa. Caso nada seja feito em termos de agenda organizada de reformas, esse hiato tende a continuar. Ou o que é pior: as vendas começarem a declinar graças ao aumento do endividamento das famílias - mas isso já é tema para outro post.

 

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