Clotilde, minha empregada, me perguntou outro dia: Vítor, e essa carestia, pára quando? Como assim, Clotilde, indaguei. Essa carestia, seu Vítor, tá tudo muito caro. Vou ao supermercado, o dinheiro não dá mais pra nada. Desse jeito o Sr. vai ter de aumentar o meu soldo. Fica difícil! Sobrou pra mim, né Clotilde? Pois é, seu Vítor, sobrou pro Sr. mesmo. E ela ri, enquanto passa a pilha de roupas sobre o sofá. Clotilde sabe das coisas, não é mesmo leitor?
Clotilde vai ao supermercado e verifica que o dinheiro que reserva todos os meses para as compras dá sempre para menos coisas. A carestia, que Clotilde nota nessas andanças, a faz pleitear aumento de salário. Como o mercado de empregadas domésticas anda com ociosidade muito baixa, é muito provável que Clotilde consiga. Se muitas outras fazem o mesmo que ela, os respectivos empregadores farão o mesmo. A barganha não para por ai: porque, para pagar Clotilde, também pedirei aumento! E os empregadores das outras empregadas domésticas provavelmente agirão assim também. Os salários, enfim, aumentarão e a inflação, que causou tudo isso, se retroalimentará, sendo maior no futuro.
Clotilde sabe disso: isso só para, Sr. Vítor, quando o pessoal de Brasília parar de fazer besteira. Eles roubam muito, Sr. Vítor, daí precisam de dinheiro da gente para bancar a roubalheira. Mais gasto, maior o déficit público, maior é a pressão inflacionária. Mais moeda na economia, pela leniência do Banco Central e, sim, mais inflação. Clotilde, meu amor, você bem que poderia substituir o Mantega. Coitado do homem, Sr. Vítor, ele tá todo enrolado, não tá? Eu rio e me volto para o jornal: Clotilde, o homem tá enrolado demais da conta! Ele e a SUA presidenta. Que isso, Sr. Vítor, quem disse que eu votei nela? É ruim hein! 🙂