A fada da confiança não fará milagres

[et_pb_section admin_label="section"][et_pb_row admin_label="row"][et_pb_column type="4_4"][et_pb_text admin_label="Texto" background_layout="light" text_orientation="justified" use_border_color="off" border_color="#ffffff" border_style="solid"]

Diversos analistas e economistas têm chamado atenção para o início da volta da confiança de empresários e consumidores, captado, notadamente, pela melhora das expectativas desses agentes, após um longo inverno. Como evidenciam os exercícios empíricos, a confiança exerce papel de antecipar uma melhora tanto do consumo quanto dos investimentos, o que gera um certo otimismo diante da faísca de retomada daquela. Esses mesmos analistas e economistas, por suposto, têm alertado para o prazo de validade dessa pequena melhora nos índices. Uma vez que atitudes concretas não sejam implementadas pelo governo para conter a sangria fiscal, nada sustentará essa retomada. Argumento, de forma complementar, que mesmo na hipótese de resolução da crise política e aprovação de medidas para conter o avanço da despesa pública, o aumento da confiança não será suficiente para o Brasil voltar ao crescimento sustentável.

grafico01

Dada a ociosidade existente na capacidade instalada e no desemprego de mão de obra, uma vez recuperada a confiança, é possível sim voltarmos a ter um número de crescimento positivo em 2017. Algo entre 0,5% e 1%, se, claro, o descalabro fiscal for minimamente equacionado. Um crescimento maior e sustentável, porém, só será possível se o país voltar a propor e aprovar uma agenda reformista. Um tanto quanto mais ousada do que foi feito nos últimos 20 anos, diga-se.

Lembremos, por sinal, como chegamos até aqui. A economia brasileira chegou ao pleno emprego do fator trabalho em meados de 2010. Uma vez lá, era preciso contar com as outras duas turbinas do crescimento: investimento e produtividade. Essas, entretanto, só podem ser acionadas se o ambiente de negócios e a política macroeconômica gerarem menos ruídos e mais incentivos.

A demanda, por suposto, pode até acender a fogueira, mas pouco pode fazer para mantê-la acessa. É preciso que as instituições do país gerem incentivos para empresários e trabalhadores possam ser cada vez mais produtivos, mantendo assim o crescimento sustentável ao longo do tempo.

Hoje, as instituições do país jogam contra essa trajetória. A carga tributária por aqui não é só alta, é difícil de ser arrecada. A infraestrutura é péssima, o que faz aumentar sobremaneira os custos de transporte. O judiciário é lento e custoso. A legislação trabalhista é caduca. Todo o incentivo existente é ou para fazer negócios escusos com o Estado, como tem sido amplamente demonstrado pela operação Lava Jato ou para fazer concurso público.

Os incentivos, desse modo, nos levam a ter uma economia de baixíssima produtividade, que a qualquer surto de avanço da demanda, gera pressões inflacionárias, levando ao tormento do stop and go que temos visto nos últimos trinta anos.

Para romper esse feitiço do tempo, é preciso entender o que gera crescimento econômico de longo prazo. O aumento da produtividade só será possível se o Brasil se tornar uma verdadeira economia de mercado, onde quem corre riscos é recompensado por isso. Infelizmente, entretanto, estamos longe disso.

Alguns economistas parecem por peso elevado sobre o papel da confiança na recuperação, bem como tendem a identificar a demanda e o controle de determinados preços como sendo a forma do país atingir crescimento sustentável. O experimento da Nova Matriz Econômica, infelizmente, não foi suficiente para construir consenso em torno de reformas estruturais e política macroeconômica guiada por regras.

A forma como a sociedade brasileira resolverá esse impasse depende em grande parte do sucesso do novo governo. A orientação da nova equipe econômica é claramente pró-reformas e pela reconstrução do tripé macroeconômico. Uma vez que esta consiga se impor politicamente, aprovando sua agenda no Congresso nos próximos dois anos, é possível que consigamos entrar no próximo mandato presidencial com uma perspectiva de crescimento mais próximo ao potencial da economia brasileira.

Há, de fato, boas chances disso ocorrer. Uma vez ratificado o impedimento de Dilma Rousseff, o governo Temer passa a contar com alguma legitimidade para negociar em melhores bases com o Congresso. Sai o fisiologismo puro que tem marcado os últimos meses para uma agenda mais pró-crescimento. A prioridade inicial do "pós-Dilma" é bastante clara: aprovar o limite de gastos do governo. Ainda que isso não seja uma medida suficiente para estancar a sangria fiscal, pode muito bem servir de aperitivo para aquela agenda mais profunda, com reformas estruturais, concessões, privatizações, securitização da dívida ativa, independência do Banco Central, etc.

Se assim for, essa melhora da confiança passa a contar com fundamentos concretos, o que deslanchará boas perspectivas para um crescimento sustentável a partir de 2019. Se assim não for, pode haver uma recuperação cíclica, com ocupação da ociosidade elevada nos fatores de produção ou, o que seria um cenário pessimista, a manutenção de crescimento negativo nos dois próximos anos.

Esperemos que a sociedade demande a aprovação da agenda pró-crescimento e que o Congresso a escute...

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section][et_pb_section admin_label="Seção" fullwidth="off" specialty="off"][et_pb_row admin_label="Linha" make_fullwidth="off" use_custom_width="off" width_unit="on" use_custom_gutter="off" padding_mobile="off" background_color="#0c71c3" allow_player_pause="off" parallax="off" parallax_method="off" make_equal="off" parallax_1="off" parallax_method_1="off" column_padding_mobile="on"][et_pb_column type="4_4"][et_pb_team_member admin_label="Pessoa" name="Vítor Wilher " position="Bacharel e Mestre em Economia " image_url="https://analisemacro.com.br/wp-content/uploads/2011/03/vitorwilhergnews.png" animation="left" background_layout="dark" linkedin_url="https://www.linkedin.com/in/v%C3%ADtor-wilher-78164024" use_border_color="off" border_color="#ffffff" border_style="solid" saved_tabs="all" twitter_url="https://twitter.com/vitorwilherbr"]

Vítor Wilher é Bacharel e Mestre em Economia, pela Universidade Federal Fluminense, tendo se especializado na construção de modelos macroeconométricos e análise da conjuntura macroeconômica doméstica e internacional. Sua dissertação de mestrado foi na área de política monetária, titulada "Clareza da Comunicação do Banco Central e Expectativas de Inflação: evidências para o Brasil", defendida perante banca composta pelos professores Gustavo H. B. Franco (PUC-RJ), Gabriel Montes Caldas (UFF), Carlos Enrique Guanziroli (UFF) e Luciano Vereda Oliveira (UFF). É o criador do Blog Análise Macro, um dos melhores e mais ativos blogs econômicos brasileiros, sócio da MacroLab Consultoria, empresa especializada em data analysis, construção de cenários e previsões e fundador do Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica (GECE-UFF). É também Visiting Professor da Universidade Veiga de Almeida, onde dá aulas nos cursos de MBA da instituição. Leia os posts de Vítor Wilher aquiCaso queira, mande um e-mail para ele: vitorwilher@analisemacro.com.br

[/et_pb_team_member][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Como se comportou a Taxa de Participação no Brasil nos últimos anos? Uma Análise com a Linguagem R

O objetivo deste estudo é analisar a evolução da Taxa de Participação no Brasil, contrastando-a com a Taxa de Desocupação e decompondo suas variações para entender os vetores (populacionais e de força de trabalho) que influenciam o comportamento atual do mercado de trabalho. Para isso, utilizamos a linguagem R em todo o processo, desde a coleta e o tratamento das informações até a visualização dos resultados, empregando os principais pacotes disponíveis no ecossistema da linguagem.

Como se comportou a inflação de serviços no Brasil nos últimos anos?

Uma análise econométrica da inflação de serviços no Brasil comparando os cenários de 2014 e 2025. Utilizando uma Curva de Phillips própria e estimativas da NAIRU via filtro HP, investigamos se o atual desemprego nas mínimas históricas repete os riscos do passado. Entenda como as expectativas de inflação e o hiato do desemprego explicam o comportamento mais benigno dos preços atuais em relação à década anterior.

Como se comportou o endividamento e a inadimplência nos últimos anos? Uma análise utilizando a linguagem R

Neste exercício realizamos uma análise sobre a inadimplência dos brasileiros no período recente, utilizando a linguagem R para examinar dados públicos do Banco Central e do IBGE. Investigamos a evolução do endividamento, da inadimplência e das concessões de crédito, contextualizando-os com as dinâmicas da política monetária (Taxa Selic) e do mercado de trabalho (renda e desemprego).

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.