O tempo nublado e abafado desses dias no Rio de Janeiro retrata bem o espírito da economia brasileira. O índice Bovespa caiu 11,7% em setembro, enquanto o câmbio mudou de nível: era de 2,23 R$/US$ no início do mês e passou para 2,45 R$/US$ hoje. A hecatombe se explica pelo avanço da candidata Dilma Rousseff nas pesquisas. Em agosto, com o falecimento de Eduardo Campos, Marina Silva iluminou o horizonte, trazendo esperança de que, enfim, o PT poderia deixar o governo federal. Setembro termina com uma guinada da campanha petista à esquerda, com franca e ampla defesa do orçamento parafiscal (subsídios), bem como retrocessos, como no ocaso da independência do banco central. A reeleição de Rousseff, desse modo, acende o sinal vermelho.
O resultado fiscal tortuoso divulgado hoje - quarto déficit primário consecutivo - é o protagonista de um enredo que pode desembocar no rebaixamento de rating no próximo ano. Com ele, menos investidores estrangeiros virão para o Brasil em um momento crítico: de aumento dos juros norte-americanos. A desvalorização do câmbio tem impactos concretos sobre uma inflação que tem resistido cair nos últimos quatro anos. Adicione ainda o aumento de preços administrados, represados nos últimos tempos por uma volta ao passado heterodoxo brasileiro, e está desenhado mais um ano de estagflação: crescimento próximo da nulidade com inflação sem controle.
O overshooting cambial e suas consequências sobre inflação e crescimento, entretanto, não são as piores coisas no horizonte. Com a volta do tripé macroeconômico e a aprovação de reformas microeconômicas, o país poderia muito bem administrar a crise e voltar a crescer com inflação controlada já em 2016. O problema é que a guinada à esquerda da candidata Dilma Rousseff sinaliza que outro caminho será seguido: o que levará a política econômica [heterodoxa] às últimas consequências. E essa, sim, é a soma de todos os medos.
Aumentar o orçamento parafiscal - com mais e mais subsídios não contabilizados -, bem como administrar a política monetária de forma outra que não aquela receitada pela teoria econômica [convencional] provocará ainda mais imprevisibilidade sobre os agentes, o que reduzirá ainda mais o potencial de crescimento. A inflação deixará de ser controlada com juros e passará a ser administrada por decretos, normas e portarias, como foi no passado. Medidas como congelamento de preços e limitação de margens de lucro, afinal, constituem a fronteira do pensamento heterodoxo no continente.
A soma de todos os medos, leitor, pode ser resumida assim: nos tornarmos, ao fim do segundo mandato da atual presidente, a nova Argentina. A guinada da candidata à esquerda parece ter queimado os navios, o que deixa espaço nulo para a volta da responsabilidade e racionalidade na condução da política econômica em uma eventual vitória no pleito. E é precisamente por isso, por esse medo abstrato, mas real, que o mercado termina setembro muito pior do que começou. A aguardar os próximos desdobramentos...