A questão central da conjuntura econômica atual é saber se a economia brasileira está ou não desacelerando. Isto não está (ainda) muito claro, dado que os sinais (e indicadores) são contraditórios. De um lado, a oferta de emprego parece recuar um pouco (seja pelos dados do CAGED, seja pela PME do IBGE), mas tanto a produção industrial quanto o IBC-BR (o índice de atividade econômica do Banco Central) demonstram certa recuperação.
Há, é certo, um aumento generalizado de preços em todo o mundo, graças à pressão das commodities. A continuação do aumento da oferta de dólar pelo FED (o Banco Central americano), tornando os juros reais americanos negativos, tem incentivado uma recomposição de portfólio por parte dos investidores internacionais, seja na aplicação em ativos mais arriscados em países emergentes, seja mesmo em commodities - pressionando, portanto, seus preços.
Uma decomposição do IPCA vai mostrar, porém, que não se trata apenas de um choque de oferta nos preços. Além de Alimentos e Bebidas, os Serviços, embalados pelo aumento da massa salarial e do crédito, têm demonstrado uma rigidez na casa dos 8% em 12 meses, valor superior à série histórica.
Nesse contexto, o Banco Central e o Ministério da Fazenda têm dado ênfase em três mecanismos no atual cenário de inflação em alta com dúvidas sobre a desaceleração da economia, a saber: i) medidas prudenciais, como aumento do compulsório, aumento da exigência de capital para empréstimos de longo prazo por parte dos bancos comerciais e IOF sobre algumas operações; ii) sinalizado que o superávit primário será cumprido em sua meta cheia (sem desconto dos investimentos do PAC); iii) continuação dos aumentos (ainda que moderados) da taxa básica de juros.
Retirar o foco da taxa de juros, nesse momento, me parece ser uma estratégia acertada, diante da incerteza quanto ao próprio movimento da economia brasileira, além das incertezas do cenário externo. O aumento da relação Crédito/PIB verificado nos últimos anos exige que a autoridade monetária tome outras direções que não apenas a calibragem da taxa básica. Em outras oportunidades, também, o próprio Banco Central "abandonou" o centro da meta em um ano, objetivando "acertá-lo" no ano seguinte.
Não há, portanto, uma perda de credibilidade da autoridade monetária pelo menor ímpeto na política monetária restritiva, dados os diferentes componentes do cenário atual. Um choque de oferta, uma pressão dos serviços, um cenário externo volátil e complexo exigem da autoridade monetária não apenas vigilância, como perseverança na perseguição da estabilidade do poder de compra da moeda. Isso, de modo algum, é tarefa simples e estará sempre sujeita às mais diversas críticas.
À acrescentar, somente, uma pesquisa realizada pela FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) com 1.220 empresas. Diante da maior concorrência dos produtos importados (facilitada pela sobrevalorização da taxa de câmbio), uma alta carga tributária (algo que já deveria estar precificado) e a política monetária restritiva, a maior das empresas tem tomado posturas defensivas, tais como i) redução de custos; ii) aumento da produtividade; iii) diferenciação de produtos. Ou seja, ao invés de aumentar a produção, estão tentando proteger o seu mercado. Isso é exatamente o que foi feito à época da âncora cambial (1994-1998).