Tenho sofrido calado
Todos esses anos...
Minha musa morta
Iniciou meu silencioso degelo.
Vivo pelas paredes desertas
De casas mal assombradas
Sob escombros de desejos
De uma gente desvairada.
Tenho escrito poesias
Com o sangue de minhas veias
Como dói escrevê-las
Mais dor eu sinto ao lê-las.
É por suposto um crime
Ver meu corpo assim
Nesse legado vegetativo
Por uma mulher tão vazia.
Mas o que posso fazer?
Sou poeta, não controlo meu jeito
Sou poeta, tenho sentimentos
Sou poeta, nasci para sentir...
Sim, sentir!
Pois o poeta sente diferente
O que os outros não vêem
Sente mais dor que o habitual
Ama mais que o normal.
É um eterno exagerado
Na plenitude de viver
Acaba vivendo mais do que os outros
E sofrendo, por suposto, também.
Mas é diferente ser poeta
Não nos prendemos à amarras
A medos inconscientes
Limites de prazer.
Somos bobos
Somos tristes
Somos amantes
Somos poetas
Isso é o que somos.