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Toda vez que eu entro em um táxi, seja no Rio ou em outra cidade do Brasil, a conversa sempre recai sobre a Uber. É incrível como não há um único taxista que não culpe a empresa pela queda no movimento. Alguns até chegam a identificar a crise econômica pela redução das suas margens, mas dizem que o principal problema é a Uber. Será que eles têm razão?
Em primeiro lugar, observe o seguinte. A Uber concorre com os taxistas por clientes, o que naturalmente reduzirá a demanda por táxis convencionais. Mas como perguntar não ofende, vamos lá: quem é esse cidadão que irá se cadastrar na Uber?
A pessoa que dirige um carro da Uber possivelmente também dirigiria um táxi, não fossem as restrições de licenças que as prefeituras impõem. Desse modo, a margem de lucro no mercado de táxis antes da Uber era maior porque a oferta de motoristas era menor. A Uber, em certa medida, corrige o problema de licenças, levando o preço médio para algo mais próximo de um mercado competitivo. Terrível para os taxistas, mas bom para o consumidor, diga-se.
Dito isto, vamos ao ponto central que a Uber traz. Uma vez que a empresa leva o preço para algo mais próximo de um mercado concorrencial, chegará o ponto onde não valerá mais a pena para o motorista entrar nesse mercado. Em determinado momento, a oferta de motoristas (Uber, táxis, outros aplicativos, outras empresas, etc...) será o suficiente para atender a demanda por um determinado preço. Esse preço será naturalmente menor do que era antes da Uber.
Argumento entendido? Agora, vamos para a conjuntura. Todo mundo sabe que o desemprego tem aumentado no Brasil de forma bastante pronunciada. Ainda que eu não possa mostrar essa causalidade - e isso me mata! - parece razoável supor que o aumento do desemprego faz aumentar a quantidade de pessoas dispostas a dirigir um carro da Uber. Ainda que muitas pessoas estivessem dispostas a dirigir um carro da Uber em condições normais, parece razoável que o aumento do desemprego incentiva essa decisão.
De fato, se a gente pegar as pesquisas por "Ser motorista Uber" no Google Trends e associar à taxa de desemprego, verá uma correlação bastante positiva. Se essa pesquisa é uma boa proxy para a evolução do número de motoristas da Uber e se isso implica em causalidade, já é uma estória bem mais interessante, mas que no momento eu infelizmente não posso responder... 🙁
Em resumo, os taxistas convencionais podem até achar que o problema é a Uber, mas é preciso verificar duas coisas, como vimos. A Uber corrige a "renda de monopólio" dos taxistas. Além disso, se de fato o desemprego estiver incentivando o número de pessoas dispostas a dirigir um carro Uber, a crise econômica tem ainda mais importância para explicar a redução do número de corridas dos taxistas tradicionais.
Por fim, se alguém tiver essa série "motoristas Uber", por favor, me mande! Ah, sim, membros do Clube do Código podem ver o script desse post no repositório do GitHub, na parte de posts... 🙂
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