Sobre a próxima reunião do Copom e a condução da política monetária

A próxima reunião do Comitê de Política Econômica (o Copom) nos dias 28 e 29 de agosto ocorrerá em meio a um início de retomada do nível de atividade. Um início tímido, é bem verdade, mas de acordo com o cenário central do Banco Central. Adicione-se a isso um choque de oferta no grupo Alimentos e Bebidas, causado pela seca norte-americana e pelo frio no Sul do Brasil. Será que o Comitê banca mais 50 pontos-base de corte na Selic?

Se você, leitor, me perguntasse isso antes da crise de 2008 eu responderia com absoluta certeza: o afrouxamento para em 8% a.a. Mas já aqui, diante de uma situação sui generis no campo internacional, creio que há espaço para mais um corte. Ao menos mais um corte de 50 pontos-base. Isto porque, a situação externa é uma combinação de "pouso suave" da China, retomada tímida (e nada sustentável) do nível de atividade da economia americana e crise europeia. No primeiro caso, há problemas estruturais profundos envolvendo o país asiático. Mesmo com uma política econômica mais ativa, não nos parece que aquele crescimento pujante seja possível em um cenário de stress internacional. Ontem, no Valor, dois comentaristas sintetizaram a situação chinesa: será que dá para impulsionar ainda mais os Investimentos em um cenário de desempenho instável do setor de tradables?

A economia americana vem desalavancada, i.e., retirando os passivos do balanço das famílias e empresas. É um processo que demora muito tempo para ser completado, logo não se imagina que a retomada do nível de atividade seja consistente nos próximos trimestres. Alternará entre boas e más notícias. Já a Europa, não há problema técnico. Todo mundo já sabe o que deve ser feito para resolver a crise financeira. O problema é eminentemente político, de difícil resolução. Sinceramente, acho muito pouco provável que seja resolvido no curto prazo.

Diante disso, essa Diretoria vem demonstrando que a situação externa exerce grande influência sobre suas decisões. Observe: não é que o crescimento esteja a frente da inflação. A questão central que tem sido amplamente divulgada pela autoridade monetária é que o impacto desinflacionário do cenário externo compensa qualquer impasse doméstico. E foi isso que justificou o atual processo de afrouxamento monetário. Em assim sendo, não vejo motivos contrabalanceadores suficientes para que já aqui o Copom decida por não reduzir mais 50 pontos-base. Em outros termos, ele deve continuar testando a economia com juros reais abaixo de 3%.

E isso significa que irá reduzir a Selic em mais 50 pontos-base na próxima reunião. Daí encerra-se o ciclo atual de redução dos juros, dando início ao período de parada técnica. Observa se a economia de fato irá reagir com mais vigor a partir do 4º trimestre e se isso não impedirá a convergência da inflação para a meta. Caso haja sinais de pressão do hiato ou ainda a presença de efeitos secundários advindos de outros choques de oferta, a Selic deve volta a subir no próximo ano. Provavelmente no segundo semestre.

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