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A graduação em economia no Brasil é uma espécie de cemitério de ideias mortas, onde teorias já abandonadas na maior parte do mundo encontram refúgio, recebem aconchego e florescem. A causa disso, sabe o leitor amigo, tenho tratado ao longo dos últimos anos nesse espaço. Ainda que a realidade esteja lentamente sendo modificada, com cada vez mais informação disponível para os jovens estudantes de economia, há ainda uma séria disposição de alguns em aceitar o que lhes dizem os seus professores. O que, por suposto, podemos fazer para modificar essa triste realidade?
Frequentemente, leitor, recebo mensagens e comentários que contam a surrada estória do multiplicador keynesiano, donde o gasto do governo é apontado para resolver a crise que vivemos. Peço, então, alguma demonstração sobre como esse gasto viraria, magicamente, crescimento. Em nenhum momento, entretanto, minhas preces são atendidas. Nenhum exercício empírico é mostrado, nenhum artigo é citado. Nada, apenas estórias, narrativas sobre o poder mágico da multiplicação dos pães e do vinho...
O aluno ouviu o professor dizer que o multiplicador funciona. Ele, então, leu o livro-texto e, como faz sentido, resolveu se agarrar ao argumento. A narrativa se constituiu, então, em verdade auto-evidente.
Testes empíricos, por outro lado, dão enorme trabalho. É preciso ter tido alguns cursos de cálculo, estatística e econometria. Mas não apenas teoria, é preciso ter aprendido a lidar com algum pacote estatístico ou mesmo uma linguagem de programação voltada para data analysis. Só assim, será possível testar alguma teoria que se ouviu falar por aí. É preciso ter um pouco de São Tomé, só acreditar nas teorias que podem ser falseadas por testes empíricos minimamente controlados.
Certamente, aqui, já é possível dizer que o problema não é do aluno. Há uma relação de confiança entre ele e o seu professor, geralmente um cara com boas credenciais acadêmicas, doutor e pós-doutor na arte que lhe ensina. Por que o aluno deveria desconfiar?
Desconfie de tudo, disse em uma aula, Mário Possas, o engenheiro que virou professor de economia. Provavelmente uma das mentes mais brilhantes com quem pude ter aulas. Inclusive de mim, completou... Engenheiros têm, por dever de ofício, obrigação de desconfiar e confrontar a teoria exposta com a prática. Afinal, se não o fizer, a ponte pode cair ou o sistema não funcionar... São coisas muito práticas.
Mas também não são práticas as coisas que estudam os economistas? O gasto que não vira crescimento pode perfeitamente ser testado empiricamente, assim como a expansão monetária que vira inflação. Por que raciocínios perfeitamente falseáveis pela evidência empírica precisam ficar confinados às narrativas de nossos professores?
É preciso desafiar as ilicitudes de nossos mestres, leitor. Economia, afinal, não é questão de opinião. Toda vez, portanto, que o seu professor lhe disser que Y causa X, peça que ele mostre. Peça provas, artigos, papers ou mesmo algum exercício no R, que tal? Só assim para acabarmos com a fanfarronice de pessoas que acham que econometria é coisa de neoliberal. Em pleno 2017, por favor, né? 🙂
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Update: interessados na discussão metodológica implícita aqui, ver Friedman (1953), disponível, por exemplo, aqui.
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