A ata do Copom informa: Banco Central tenta buscar a estabilidade de preços, mas precisa de aprovação do governo.

A ata da 173ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje, deixa claro que a autoridade monetária parece reconhecer o erro iniciado em agosto de 2011, quando baixou a taxa Selic em 50 pontos-base, alegando ventos deflacionários vindos do exterior. O Copom ressalta, novamente, que as restrições ao crescimento estão do lado da Oferta e que não há problemas de demanda - esta continuará robusta ao longo de 2013. Resume esse descompasso no parágrafo 28 quando é enfático sobre o processo inflacionário atual:

"O Copom avalia que a maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor, pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência. Embora essa dinâmica desfavorável possa não representar um fenômeno temporário, mas uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado, o Comitê pondera que incertezas remanescentes – de origem externa e interna – cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com cautela" (grifo nosso).

Em outros termos, os ventos deflacionários vindos do exterior não vieram. Muito pelo contrário: ao longo do ano passado tivemos choques de oferta vindos do exterior. O descolamento entre Oferta e Demanda, esse sim, é o grande culpado pela disseminação da inflação, embora, claro, você tenha de colocar a culpa em choques pontuais e no mercado de trabalho pressionado. Mas a eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado só pode se manter se o descolamento entre o crescimento da oferta e da demanda continuar. E isso, claro, com a anuência da política monetária, que reduziu a Selic desde agosto de 2011 em 525 pontos-base, fazendo com que a taxa de juros real esteja bem abaixo daquela considerada neutra em relação à inflação. Sobre essa última, há um estudo do Fundo Monetário Internacional, calculando a taxa neutra brasileira no intervalo entre 3,5% e 5,5% - vide a tabela abaixo.

neutra

 

A taxa de juros real brasileira situa-se abaixo de 2% há algum tempo, como observado no post abaixo - ainda que tenha se acelerado um pouco nas últimas semanas, devido à expectativa de alta da Selic. Ou seja, se o cálculo acima estiver correto, a política monetária brasileira tem sido muito expansionista, contribuindo decisivamente para o gap entre oferta e demanda. Como reconhece, agora, a própria autoridade monetária, as limitações ao crescimento não estão no lado da demanda e sim no lado da oferta, já é hora de subir a bandeira branca e mudar o curso da política monetária.

A ata é, enfim, um reconhecimento de que a política monetária não causa crescimento e que deve ser guiada tendo como objetivo a estabilidade de preços. O diabo, leitor, são os detalhes! Uma coisa é o Banco Central exprimir isso - algo que, honestamente, acho que nunca deixou de acreditar, mesmo tornando a comunicação com o mercado extremamente confusa -, outra, completamente distinta, é tornar isso factível. O atual Banco Central não possui mais autonomia para deliberar sobre a taxa de juros: prova disso é que o governo tenta a todo custo - via desonerações pontuais - adiar a alta inevitável da Selic. O Banco Central quer buscar a estabilidade, mas parece forçado a aceitar uma inflação mais elevada em troca de um crescimento que sabe que não virá mais acentuado, dadas as restrições de oferta.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Transfer Learning: mostrando porque o Python está na ponta do desenvolvimento

A aprendizagem por transferência (transfer learning) é o reuso de um modelo pré-treinado em um novo problema. Portanto, sua utilização torna-se um avanço enorme para a previsão de diferentes tipos de variáveis, principalmente para aquelas ordenadas no tempo. Mostramos nesta postagem o uso do Transfer Learning com o Python para o caso de Séries Temporais.

Criando Tabelas com o Python: mostrando o poder da linguagem sobre o Excel

Nos dias atuais, pessoas que trabalham com dados estão constantemente confrontados com um dilema: criar uma tabela não tão genial no Excel ou manter em um formato ainda pior, como um dataframe, mas mantendo a flexibilidade de obtenção dos dados. Podemos resolver esse grande problema, unindo a flexibilidade e beleza ao usar a biblioteca great_tables do Python.

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.