Em maio eu fiz apresentações sobre a conjuntura econômica brasileira recente no Correio Braziliense (16) e no Diário do Comércio (31), pelo projeto Millenium nas Redações. Em ambas encaminhei a discussão fazendo um contraponto entre o que pensam os economistas ligados a atual administração federal e economistas críticos a essa visão. Não qualquer crítica, que fique claro: a crítica à forma de conduzir a política econômica. A ideia é que a mesma tem gerado distorções importantes sobre o organismo econômico brasileiro, no que Eduardo Giannetti, por exemplo, classificou como causadora de uma "espiral intervencionista". Sobre esse debate estrito em torno da política econômica, os jornalistas que ouviram minhas apresentações fizeram muitas perguntas. A maior parte delas voltadas para o cenário prospectivo envolvendo inflação, desemprego, juros e crescimento. E, quase sempre, tendo como pano de fundo as eleições do próximo ano.
Essas "Discussões de Maio" se somam aos debates que venho participando desde o "cavalo de pau" dado na condução da política econômica, já muito antes da atual administração tomar posse. Minhas conclusões e, portanto, minhas respostas às indagações dos jornalistas fazem parte de uma reflexão que já vem tomando corpo há pelo menos três anos. O que fica claro para mim e, como consequência, o que tentei passar para esse público restrito, é que existe uma divisão bastante aparente no debate sobre política econômica. Existe um grupo de economistas que entende, a partir de um corpo teórico bastante enraizado, que a política econômica não só pode, como deve interferir no organismo econômico, visando evitar o aprofundamento de recessões ou simplesmente para libertar o animal spirit dos empresários. Esse grupo de economistas estava fora do centro das discussões sobre política econômica até o início dos efeitos da atual crise econômica, ganhando relevância justamente com o advento da mesma.
Em outro front, existe um grupo de economistas que critica esse modo de conduzir a política econômica, do qual eu faço parte, que entende justamente o contrário: a intervenção do Estado na economia, via instrumentos fiscais, monetários, parafiscais, acaba por aprofundar a incerteza inerente ao ambiente econômico. Em outros termos, o que o Estado deveria estar fazendo é promover uma política econômica previsível, baseada em regras, construir um marco regulatório confiável, visando manter um ambiente de negócios estável. Uma política econômica ativa, do contrário, exige sempre mais ativismo, o que amplifica a incerteza, reduzindo o nível de investimento, aumentando as pressões inflacionárias, amplificando o déficit em conta corrente e, por fim, reduzindo o crescimento.
Nesse contexto, fica claro que o atual governo, influenciado por aquele grupo de economistas - e não por este do qual faço parte - parece construir algum tipo de processo do tipo learning by doing. Dado o pragmatismo que uma eleição impõe a todo e qualquer político, ao que tudo indica, esta administração aos poucos parece perceber os equívocos de manter os pilares da nova política econômica, tendendo a abandoná-la em algum momento, visto os efeitos negativos listados no parágrafo anterior. Em outros termos, tenderá a repassar investimentos em infraestrutura para a iniciativa privada, visando melhorar a produtividade da economia em um ambiente de taxa de desemprego historicamente reduzida. Além disso, volta a praticar uma política monetária cujo objetivo é a estabilidade de preços e deixa de intervir no câmbio, como se ele fosse um instrumento de política industrial. O resíduo fica por conta da política fiscal, menos pela falta de conhecimento, mais pela rigidez nos gastos correntes a que está submetida.
Custos envolvidos nesse processo de learning by doing ou em português claro: fazer a coisa certa depois de fazer tudo errado? Resposta: o tempo de ajuste. Se antes, para contornar o processo inflacionário era necessário um orçamento de aumento da taxa de juros entre 100 e 150 pontos-base, hoje é provável que seja necessário algo mais que 200 pontos-base. Ademais, se o governo não agir rápido [ou o que é pior: não agir] para construir um marco regulatório estável e transparente, é possível que não consiga mais dar conta da precariedade da infraestrutura brasileira, condenando a economia ao baixo crescimento, mesmo diante de grandes eventos esportivos. Afora, é claro, todas as outras reformas estruturais que melhorariam a produtividade da economia.
Diante desse diagnóstico, triste, confesso, minha opinião pessoal é que o público de jornalistas está ciente das dificuldades inerentes ao processo político. Eles, mais do que eu, sabem que atos políticos não são geralmente conduzidos pela eficiência econômica: mas sim pela maximização de votos. Desse modo, a mudança na forma de conduzir a política econômica, em última instância, será feita somente se isso for conveniente para a atual gestão. Caso contrário, ela prosseguirá cometendo os mesmos equívocos.
O Diário do Comércio fez uma matéria sobre o assunto, que pode ser lida aqui.
A apresentação que fiz pode ser baixada aqui.