O título é meio cômico, eu sei. Mas o Brasil não é um país sério, então, permita-se, leitor. Escrevo essas linhas, propositalmente, antes da decisão de juros do Banco Central. O call - é mais chique falar call do que consenso ou média - do mercado mudou de aumento de 100 para 150 bps após o desastre da semana passada. Há, porém, gente que acredite em 200 bps ou mais. O mercado, às vezes, é como uma criança mimada testando o limite dos pais.
O texto é para falar sobre isso, mais especificamente sobre a sinuca de bico que o ministro colocou o Banco Central.
O que, convenhamos, é meio que um clássico na conjuntura brasileira.
O Banco Central é como a última companhia em uma guerra, que morre heroicamente tentando manter a posição. Ou, em tempos de pandemia, o remédio que entra no organismo já tomado por um vírus. E o vírus nesse caso, bom deixa para lá...
Não, por óbvio, que o Banco Central seja sempre inocente. Em tempos de ministro da fazenda (ou da economia) ruim, sempre é possível ocupar a autoridade monetária com presidentes ruins. Tombini que o diga.
Nos tempos atuais, entretanto, é difícil dizer que o Banco Central tenha culpa pelo estrago.
A inflação de dois dígitos está associada aos inúmeros choques que assolam a economia mundial, de forma geral, e o Brasil, em particular. E sobre isso, cabe ao Banco Central meio que organizar a bagunça. Dizer para o mercado que vai ficar tudo bem. Daqui a pouco, passa. Não muito mais do que isso.
E nesse momento, o mercado espera isso da autoridade monetária. 150 ou 200 bps, o mais importante é o comunicado pós reunião do Copom.
A celeuma é que o Paulo Guedes mantegou. Para os não iniciados, mantegar é verbo intransitivo. Mantegar é fazer bobagem, ponto.
Guedes mantegou ao furar o teto de gastos e disse com todas as letras que o problema da inflação é do Banco Central.
Qual o problema, leitor?
O problema é que não é bem assim.
Como eu disse, a inflação atual é fruto de muitos choques. Restrição nas cadeias produtivas, câmbio depreciado, commodities, crise hídrica, combustíveis...
E agora, adicione-se a isso a perda da âncora fiscal.
Fiscal deteriorado gera uma desancoragem das expectativas muito grande, que afeta diretamente a inflação. Ainda que o efeito líquido do tal auxílio Brasil não seja muito para afetar a atividade e gerar inflação por aí.
Como estimamos no Clube AM, o teto de gastos, em conjunto com uma série de medidas adotas no interregno Michel Temer, teve como um dos efeitos a redução do juro de equilíbrio da economia.
Assim, sem teto de gastos, o juro de equilíbrio sobe, o que vai exigir do Banco Central acomodar isso via juros nominais, a Selic.
E é tudo o que o Banco Central pode fazer nesse momento.
Além, claro, de ser meio que um terapeuta do mercado.
Calma, vai ficar tudo bem, daqui a pouco passa.
Ou seja, a mantegada do Guedes implica em um país pior para todos, com mais inflação e, portanto, mais juros.
Daqui a pouco passa e vem outro governo pior, namastê!
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