Ontem o jornal Valor Econômico dedicou o seu editorial ao título "A contabilidade criativa começa a se tornar perigosa". Diz o início do texto:
"Não é de hoje que o governo federal usa de truques e malabarismos contábeis de toda natureza para alcançar a meta fiscal prometida a cada ano. Essa prática continuada distorceu de tal forma o superávit primário obtido que o próprio Banco Central passou a adotar outro conceito, o do resultado primário estrutural, para estimar o efeito da política fiscal sobre a demanda agregada da economia - se contracionista ou expansionista".
Economistas têm insistido que a continuação dessas práticas compromete a credibilidade da política econômica, impondo custos não desprezíveis à economia brasileira. O mais evidente foi a redução da nota de crédito, promovido pela agência de risco S&P. Com a vitória do PT nessas eleições, nada indica que essa forma de conduzir a política fiscal mudará, o que implica em perda do grau de investimento no próximo ano. O efeito dessa perda é a menor entrada de capitais externos, em um momento que estamos com déficit em conta corrente acima da média histórica, e aumento do custo de captação do Tesouro, via juros mais elevados.
A política econômica atual, seja a fiscal, a monetária ou mesmo a "parafiscal" (uso de bancos públicos), tem sido guiada com discricionalidade, isto é, ela reage ao ciclo econômico. O pior: ao tentar esconder despesas e apontar receitas extraordinárias para fechar as contas, a política fiscal tem tido perda consistente de transparência. Isso não é ruim apenas por gerar perda de previsibilidade para os agentes ou por incentivar o descolamento entre oferta e demanda (que aumenta a inflação, é sempre bom dizer). É perigoso porque cria-se um "orçamento paralelo", que eventualmente rendundará em esqueletos a serem novamente computados, elevando o estoque de dívida e aumento do serviço dessa dívida.
A preocupação não deveria ser exclusividade de economistas, ainda que estes sejam os mais interessados no tema. A condução equivocada da política econômica distorce o organismo econômico, reduzindo o potencial de crescimento do país. O que, ao fim e ao cabo, redundará em aumento do desemprego. Logo, é difícil imaginar que isso não afete a vida de qualquer cidadão comum. A pergunta que fica é: como alertá-los sobre isso?