Ontem, com a divulgação do PIB brasileiro do segundo trimestre, o ministro da fazenda, Guido Mantega, voltou a por a culpa na crise internacional. É o que o governo vem fazendo desde que o crescimento passou a se reduzir, ao final de 2010. No ano passado, por exemplo, eu escrevi a respeito aqui, comparando tanto crescimento quanto inflação ao redor do mundo. Hoje volto ao tema, fazendo um exercício um pouco diferente. Com o anúncio feito pelo candidato Aécio Neves (PSDB) de que em eventual governo o seu ministro seria Arminio Fraga, algumas pessoas me perguntaram ao longo da semana o fato de se na época dele o problema do baixo crescimento também não era da crise internacional. Como verificar isso na prática?
A pergunta que queremos responder é a seguinte: a crise externa causou menor crescimento no país em 1999-2001 e em 2011-2013?
Há diversas formas de responder isso, umas mais robustas do que outras. Uma maneira simples é verificar o crescimento brasileiro nesses períodos e compará-lo com o que aconteceu no mundo. O cuidado que deve ser tomado nessa comparação é, claro, tomar países minimamente comparáveis ao Brasil. Um critério simples - existem diversos - é tomar países com renda per capita parecida com o nosso e países da América Latina. Fazendo isso, o gráfico do crescimento médio em cada um desses períodos é posto abaixo.
O crescimento do Brasil é praticamente igual nos dois períodos, próximo a 2%. A diferença é no crescimento dos demais países. Enquanto entre 1999-2001 os países da amostra cresceram próximo a 1,7% ao ano, entre 2011-2013 eles cresceram próximos a 4,5%.
Talvez incomode a alguém comparar o Brasil com o Peru, por exemplo. Afinal, enquanto a nossa renda per capita está próxima a US$ 11 mil, a do Peru está em US$ 6,6 mil*. Então, em um segundo exemplo, eu tomei apenas países e grupos de países com renda per capita próxima a brasileira. O gráfico abaixo resume essa nova comparação.
Pois é, os resultados mudam pouco. O crescimento desses países entre 1999-2001 fica próximo a 1,5% e entre 2011-2013 próximo a 4,8%.
O leitor pode, inclusive, consultar a base de dados do banco mundial aqui e utilizar outros critérios. Como se vê, o exercício não exige pré-requisitos sofisticados de econometria ou estatística. Qualquer pessoa com conhecimento básico de excel pode realizar o confronto de dados e tirar as devidas conclusões. E, claro, comparar essas conclusões com o que vem dizendo a equipe econômica... 🙂
(*) Uma análise mais cuidadosa teria que que considerar a renda per capita em termos de paridade de poder de compra, afinal, US$ 100 não compram a mesma quantidade de bens em países distintos. O ajuste, entretanto, não causa maiores problemas para o argumento principal, logo para efeitos de análise simplificada - que pode ser feita por qualquer pessoa - considerar a renda per capita em valores correntes (2013) parece ser suficiente.