Com o mercado de trabalho sentindo os efeitos do baixo crescimento da economia, era esperado que, enfim, o governo admitisse os equívocos na condução da política econômica. Correto? Infelizmente, não, leitor. Mesmo com o pior outubro da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o ministro do trabalho declarou: “Foi inesperado. Tradicionalmente, quedas só são verificadas em dezembro, quando as demissões são mais fortes. O período eleitoral inibiu, muita gente deixou de fazer investimento para esperar passar a eleição. A seca em São Paulo também afetou negativamente o emprego”. Pois é, o ministro culpou a seca e a eleição pela geração líquida negativa de pouco mais de 30 mil vagas em outubro. E classificou o dado como "inesperado", veja você, leitor. A despeito do número ter sido, de fato, muito ruim, será que não dava para esperar por isso ou é mesmo prudente culpar a seca ou a eleição pela queda na geração de vagas?
Acaso o ministro desse uma olhada nos dados do CAGED com mais frequência, veria que o dado de outubro reflete, de forma amplificada, o que está acontecendo no mercado de trabalho brasileiro. O gráfico abaixo pega a média móvel anual da geração líquida de vagas (admitidos menos demitidos) de abril de 2001 até outubro de 2014. Observe o leitor que o ciclo atual é de tendência negativa para a geração de vagas. O que reflete, naturalmente, o baixo crescimento da economia brasileira. Afinal, economia que não cresce não gera emprego.
A média móvel saiu da casa de pouco mais de 188 mil vagas líquidas no final de 2010 para menos de 25 mil em outubro desse ano. A indústria de transformação e a construção civil já possuem, inclusive, números negativos para essa métrica. Aquela está com média de -14,1 mil vagas, enquanto esta com -6,2 mil. Os setores que ainda contribuem para a média móvel positiva - mas com tendência claramente decrescente, como visto no gráfico anterior - são serviços e comércio. Entretanto, mesmo no comércio a situação já não é tão confortável, com queda substancial da média gerada, o que reflete o maior endividamento das famílias e o menor crescimento dos salários no período recente.
A abertura dos dados por salário confirma a fraqueza atual no mercado de trabalho. Como pode ser visto no gráfico abaixo, a média móvel anual da geração líquida de vagas acima de 1,5 salário mínimo é negativa desde 2008. As vagas líquidas que estão sendo abertas são praticamente todas concentradas em até 1,5 salário mínimo. A tendência, entretanto, é negativa tanto para uma quanto para a outra faixa salarial.
Diante desse quadro lastimável, leitor, só me resta perguntar: quando o governo vai admitir seus equívocos? Sair do estado de negação, afinal, é a primeira atitude para conseguir mudar de rumo. O dado de outubro pode estar, em parte, refletindo questões pontuais, mas é inegável que a tendência na geração de vagas é decrescente e isso tende a piorar nos próximos meses, acaso nenhuma mudança seja feita na política econômica. Desse modo, a postura do governo em culpar esse ou aquele evento por um dado "inesperado" preocupa muito. Não me parece que houve aprendizado algum até agora e que veremos mais do mesmo no segundo mandato. Pobre da economia e, claro, do emprego no país...
Update: Em matéria no G1, sou surpreendido com outra declaração do ministro: "Primeiro tivemos uma eleição onde tivemos um debate que procurou criar um quadro de crises e dificuldades, que inibiu. Nós tivemos informações que muita gente deixou de fazer investimentos, muitos brasileiros deixaram de adquiriir bens de consumo para esperar esperar as eleições". Ou seja, leitor, o pessimismo da campanha oposicionista gerou o número negativo de outubro. Passada a eleição, tudo ficará bem... É mole?