O cara com a camisa do Che e a ditadura da esquerda no Brasil.

Poderia soar meio tosco, não nego, criticar algo que eu dou de ombros quase todos os dias. Eu já devo ter escrito por aqui, em algum momento, minhas posições políticas e econômicas. Eu já escrevi também que a neutralidade nesse jogo é simplesmente impossível, ainda que alguns insistam nisso. Mas tudo bem, não vou falar disso hoje. Hoje, leitor, quero voltar de férias com um tema que tem me deixado um tanto incomodado nos últimos anos e que tantas outras pessoas já notaram: a tal ditadura da esquerda no Brasil. Afinal, você já notou que é cool ser de esquerda? Seria assim, por complementação, meio que pecado ser do outro lado - bate na madeira três vezes. Entre o céu e o inferno há mesmo tantas diferenças!

Eu não vou ser contra aqui, para que sejamos claros logo de início, os radicalismos. O cidadão pode ser a favor, afinal, do modelo que quiser - por mais radical que isso seja frente a imposição da realidade. Utopia, afinal, eu quero uma para viver. Desde que, claro, ele respeite as regras do jogo democrático, eu meio que topo discutir/debater qualquer coisa, por mais absurda que possa parecer de início. E é por ter esse tipo de postura que eu sempre levei numa boa as conversas sobre o comunismo. E aqui, é estranho, porque eu nunca fui comunista: nunca flertei com o comunismo, para ser mais exato. Sempre gostei da economia de mercado, apesar de achar que ela tem muitos problemas. Mas não via o comunismo como uma alternativa: nunca foi assim.

Mas, tudo bem, eu aceito a pessoa ser a favor do comunismo. Digamos que, nesse caso específico, ela nem precisa entender o modo de produção capitalista, do tipo que se ensina com um tal D-M-D´. Não, não precisa. Basta achar que o comunismo é um sonho possível, eu já topo conversar. O problema é que a pessoa associa logo comunismo a marxismo e aí trata as coisas como se fossem sinônimos. Digamos que seja, por simplicidade do raciocínio, leitor, mas se assim o é: você concorda comigo que tem de ter lido e entendido Marx, correto?

Geralmente se as coisas são sinônimos - não disse que são - é assim que funciona. E até aí, tudo bem: imagine que ela seja comunista/marxista e que vista o uniforme do Che. Nada contra o Che ou a revolução. A questão não é muito essa: a questão é o cara com a camisa do Che. Ele senta do meu lado e começa a ladainha. Ele diz que o modo de produção - o D-M-D´ - só serve para explorar o trabalhador, arrancando o suor do seu trabalho e transferindo esse suor para as mãos do empresário, do porco-capitalista. Ele diz isso, não eu, leitor, para que fique claro.

Até aí, tudo bem? É normal pensar assim, eu me pergunto. E ele continua: o trabalhador precisa se libertar da alienação, precisa entender o modo de produção capitalista e provocar a revolução. Os trabalhadores, então, organizariam uma nova sociedade, com os meios de produção comunitários, até que o modelo de assembléias seja estabelecido e a democracia plena satisfeita. Ele disse, não eu.

Até aí, tudo bem? Honestamente, a essa altura, eu estava meio aéreo. Tinha algumas contas na cabeça, o cartão de crédito havia vindo um pouco mais alto do que a mediana do ano. Vai saber o porquê. Mas minhas preocupações mundanas foram cessadas tão logo o assunto viagem se estabeleceu. O cara com a camisa do Che não parava de falar sobre os lugares que havia conhecido. Daí que, ao dizer isso, eu olhei para a cerveja de vinte tostões repousando calmamente no baldinho de gelo. Achei legal o rótulo da cerveja: era engraçadinho.

O cara com a camisa do Che era bem falante, leitor. Ele narrava suas estórias, gesticulava com as mãos, enquanto saboreava um bom nigiri de salmão. Ele entendia daquilo, leitor. Os rachis eram perfeitamente orquestrados por suas mãos sem calos. Ele entendia do riscado. As viagens, a cerveja e as discussões sobre o modo de produção capitalista apenas acenderam o alerta: não era nada demais, honestamente não era.

E também não foram as trezentas faculdades. O cara com a camisa do Che já havia feito algumas. Mas até aí tudo bem: acho legal a pessoa gostar de aprender. O que me irritou profundamente, entretanto, foi o trabalho do Darci Ribeiro (ou era outro? A essa altura não lembro, desculpe): ele nunca havia lido, mas fez questão de dizer que pegou o texto, sublinhou e resumiu para os acéfalos - palavras implícitas dele - que o cercavam. Afinal, eram todos jovens que haviam entrado na primeira faculdade, eles eram muito pobres espiritualmente para a iluminada cabeça do cara com a camisa do Che.

E assim, leitora, eu honestamente cansei. Eu gostaria de ter dito algumas verdades para o cara com a camisa do Che. Não que eu as possuísse: não as possuo. Mas as verdades que o cara com a camisa do Che exala: essas, leitor, essas eu sei de cor. E por quê? Ora, retomo o início do texto: você já parou para ver o quão é disseminado no Brasil essa tal ditadura da esquerda? A pessoa não pode ser outra coisa - o nome que tem de bater três vezes na madeira - que logo é tratada como um doente mental. Tem que ser de esquerda, tem que ter lido Marx, tem que conhecer o aperto de mão secreta: senão...

Pega mal, leitor, pega muito mal: o rapaz com a camisa do Che, sinceramente, ele não é de esquerda. Ele gosta de tomar cerveja de vinte tostões, ele gosta de viajar, gosta de comer japonês fresco, gosta de ser atendido bem, gosta de ser um criativo-publicitário etc. E aqui, surpresa: ele pode fazer isso, leitor. A verdade que transborda pelas veias do cara com a camisa do Che é uma só: ele não é de esquerda nem aqui, nem na China. Muito menos comunista ou marxista. Ou qualquer outra coisa que lembre - de longe - a utopia da igualdade justa - justíssima! O cara com a camisa do Che poderia ser um bom liberal, um social-liberal, que luta por igualdade de oportunidades para todos, mas defende o livre mercado. Por que, não, cara pálida? Ele tem direito a isso, oras!

Está mais do que na hora, leitor, da gente dar liberdade ao cara com a camisa do Che: abaixo a opressão! Abaixo a tiraria da esquerda brasileira. Abaixo o único pensamento, o único vestir (eu sempre detestei a camisa vermelha do Che, diga-se). Eu quero poder ser liberal, liberal com orgulho, para roubar a frase que alguém já disse por aí. Quero poder viajar, comer e beber bem, oras! Se eu tiver de pagar mais caro por isso, porque o fator trabalho se valorizou, paciência, não é mesmo? Agora me proibir de defender o que eu penso e o que eu acredito, não, né?

Abaixo a ditadura: estamos abertos! 🙂

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