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O início de ano é tempo de olhar para o futuro. Economistas e analistas de mercado são chamados a dar seus palpites sobre uma cesta de variáveis macroeconômicas. É demandada desses profissionais uma série de previsões para variáveis como o PIB, a inflação, os juros e a taxa de câmbio. Se em tempos normais, a profissão conseguiu construir um conjunto de técnicas estatísticas avançadas que geram um erro de previsão aceitável, isso deixa de ser verdade em momentos de delicada incerteza. E esse é o grande problema de gerar previsões em um ano eleitoral como o que estamos entrando.
Ao contrário do que um leigo pode pensar a princípio, a trajetória normal de variáveis como o PIB, a inflação e os juros é determinada de acordo com um conjunto muito restrito de fatores. Isso permite ao macroeconometrista, profissional responsável por utilizar técnicas estatísticas avançadas capazes de explicar o comportamento de variáveis macroeconômicas, gerar um erro de previsão aceitável. Se não consegue predizer exatamente como vai se comportar uma determinada variável em um período pré-definido, consegue determinar um intervalo de confiança aceitável para a mesma.
O erro de previsão, porém, está sujeito ao estresse do ambiente institucional onde essas variáveis macroeconômicas serão determinadas. E aqui, de modo a tornar as coisas mais didáticas, vamos à conjuntura. A recuperação cíclica da economia brasileira, que levou o PIB a crescer próximo de 1% no ano passado, a inflação a ficar perto de 3% e os juros básicos a atingirem a mínima histórica, está calcada em condições muito frágeis. É basicamente um voto de confiança na agenda reformista do governo que se estabeleceu no pós-impeachment.
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Estruturalmente, sabe-se que o país vive um grave problema fiscal, resultado de uma trajetória de gastos insustentável ao longo do tempo. Desse modo, a aprovação da PEC do Teto do Gasto gerou uma percepção positiva sobre os agentes, que abriu espaço para a recuperação cíclica da economia. Ainda que essa recuperação tenha contado com fatores objetivos como a queda da inflação, resultado da boa gerência da política monetária, não se pode retirar da percepção dos agentes sua primazia na melhora do organismo econômico.
Isso dito, vale notar que tudo pode ser abortado em 2018 caso um candidato não comprometido com a agenda de reformas comece a liderar o pleito. Para ilustrar, considere o aumento da incerteza, capturado pelo aumento do risco-país – uma variável objetiva, diga-se – na taxa de câmbio. Sob a liderança de um candidato não reformista, o pleito eleitoral fará o câmbio se depreciar, contaminando a inflação, os juros, o PIB e, por fim, a taxa de desemprego. Sob outro olhar, os investimentos, que deram os primeiros sinais de recuperação no terceiro trimestre do ano passado, seriam abortados, aumentando o impacto da incerteza sobre o crescimento da economia.
A macroeconomia em 2018 está, nesse contexto, condicionada ao pleito eleitoral. Se tivermos uma eleição propositiva, onde temas difíceis como a reforma da previdência sejam discutidos, encaminhando sua aprovação no próximo mandato presidencial, um cenário de crescimento econômico próximo de 3% se consolida. A inflação caminhará abaixo da meta, os juros inaugurarão novas mínimas históricas e a taxa de câmbio não deve sofrer maiores depreciações. O efeito mais visível desse cenário para a população será a continuação da redução da taxa de desemprego, com a criação de empregos formais.
Em outra perspectiva, contudo, se o pleito for liderado por candidatos não comprometidos com a agenda de reformas, o cenário se torna nebuloso para as variáveis macroeconômicas. A adição dessa incerteza, como ilustrado acima, contamina a percepção dos agentes, tornando o erro de previsão grande demais para que qualquer opinião minimamente embasada possa ser feita. O certo, diga-se, é que a recuperação cíclica é abortada nesse cenário, prejudicando sobretudo os mais pobres, que se encontram na fila do desemprego.
Diante dessa encruzilhada, a macroeconomia torce para que o desfecho seja o melhor possível. Que tenhamos um pleito cheio de ideias e proposições para os graves problemas do país, sobretudo sobre o drama fiscal. Como diz o ditado, oxalá que depois de ter feito tudo errado, possamos fazer o correto dessa vez. A esperar.
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Vítor Wilher é Bacharel e Mestre em Economia, pela Universidade Federal Fluminense, tendo se especializado na construção de modelos macroeconométricos, política monetária e análise da conjuntura macroeconômica doméstica e internacional. Tem, ademais, especialização em Data Science pela Johns Hopkins University. Sua dissertação de mestrado foi na área de política monetária, titulada "Clareza da Comunicação do Banco Central e Expectativas de Inflação: evidências para o Brasil", defendida perante banca composta pelos professores Gustavo H. B. Franco (PUC-RJ), Gabriel Montes Caldas (UFF), Carlos Enrique Guanziroli (UFF) e Luciano Vereda Oliveira (UFF). Já trabalhou em grandes empresas, nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, consultoria financeira e consultoria macroeconômica. É o criador da Análise Macro, startup especializada em treinamento e consultoria em linguagens de programação voltadas para data analysis, sócio da MacroLab Consultoria, empresa especializada em cenários e previsões e fundador do hoje extinto Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica (GECE-UFF). É também Visiting Professor da Universidade Veiga de Almeida, onde dá aulas nos cursos de MBA da instituição, Conselheiro do Instituto Millenium e um dos grandes entusiastas do uso do R no ensino. Leia os posts de Vítor Wilher aqui. Caso queira, mande um e-mail para ele: vitorwilher@analisemacro.com.br
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