A frase do título me foi proferida na semana passada por um investidor estrangeiro. É difícil não concordar com a avaliação, diante dos indicadores macroeconômicos. A estagnação do nível de atividade ganha contornos dramáticos, a inflação corre solta, o desemprego aumenta. A bolsa reflete o pessimismo, os alocados em renda fixa demonstram mau humor, exigindo prêmio de risco cada vez maior. Do governo, então, nem se fala. Voltamos à decada de oitenta, onde o sentido de país ficou perdido, após o longo período da ditadura militar.
A eleição do ano passado, a propósito, não pode ser esquecida, se quisermos propor um futuro. A miopia do eleitor médio acabou impedindo o país de fazer uma escolha mais racional. O curto prazo, com a oposição no poder, provavelmente não seria fácil. Duvido que Armínio Fraga, o então ministro da fazenda, tivesse vida tranquila em 2015. Seria preciso fazer o ajuste das contas públicas, exauridas pelo projeto desenvolvimentista dos últimos anos. A inflação aumentaria, dada a correção dos preços administrados. O desemprego também aumentaria, dada a necessidade das empresas em adequar suas estruturas de custos.
Diante do cenário, pergunta o leitor, o que seria diferente com a oposição no poder?
Em primeiro lugar, a eleição da oposição no ano passado seria uma punição ao governo pelas escolhas equivocadas dos últimos anos. A contabilidade criativa, as pedaladas fiscais, a redução forçada da energia elétrica em 2013, os vultuosos empréstimos ao BNDES, para criar empresas campeãs, a exigência de que a Petrobras participasse de todos os leilões do pré-sal e tantas outras bobagens. Todas elas baseadas em uma ideologia desenvolvimentista, remanescente entre economistas heterodoxos.
Em segundo lugar, com a oposição no poder, o ajuste poderia, de fato, apontar para um futuro. Por preferência revelada, a eleição da oposição refletiria escolhas mais racionais por parte da sociedade, indicando que o caminho deve ser uma política econômica guiada por regras e reformas que tornem o ambiente de negócios mais amigável. Ainda que as negociações entre Executivo e Legislativo sejam sempre difíceis, minha visão particular é que a legitimidade das urnas poderia ser um facilitador para uma agenda positiva.
Ao, entretanto, reeleger o governo Dilma Rousseff, o eleitor médio foi enganado por sua miopia. O ajuste necessário da economia brasileira foi, de fato, tentado: não por outro motivo, o ortodoxo Joaquim Levy foi lá colocado, como ministro da fazenda. Não houvesse necessidade de ajuste, como pregado pela presidente na campanha eleitoral, por que Joaquim teria virado ministro?
O problema, leitor, de governos que tomam o mandato pela esquerda e governam pela direita é a incoerência. O estelionato eleitoral ficou tão cristalino para o eleitor médio, que já em janeiro o governo via sua aprovação cair de forma grotesca. A negação da realidade, na campanha eleitoral, pode ser considerada uma das fontes da crise política que passamos a viver. O governo eleito era ilegítimo, dada a incongruência de suas propostas com o que era necessário fazer no período imediatamente posterior à eleição. Logo, como pode propor uma agenda positiva ao Congresso?
E agora, então?
A tentativa de alguma racionalidade pelo governo esse ano foi bloqueada por um Congresso arredio, liderado pelo suspeitíssimo deputado Eduardo Cunha. O tempero funesto da Lava Jato, que operação por operação, destrói ilusões sobre a classe política, ajuda a tornar o ambiente ainda mais hostil para a proposição de uma agenda positiva. Ademais, o impeachment entra como a cereja no bolo da crise, tornando o cenário provável para 2016 e anos à frente cada vez mais pessimista.
O Brasil, esse país que passou mais de uma década propondo e executando reformas, hoje se vê numa encruzilhada. O projeto desenvolvimentista dos últimos anos, capitaneado pelo economistas heterodoxos brasileiros (dentre os quais, o atual ministro Nelson Barbosa), destruiu a credibilidade da política econômica e aumentou em muitos graus a instabilidade microeconômica. Investir, nessas condições, é mesmo insustentável. Não à toa, o investidor estrangeiro com quem conversei estava dizendo adeus para o Brasil.