[et_pb_section admin_label="section"][et_pb_row admin_label="row"][et_pb_column type="4_4"][et_pb_text admin_label="Texto" background_layout="light" text_orientation="justified" text_font="Verdana||||" text_font_size="18" use_border_color="off" border_color="#ffffff" border_style="solid"]
Ontem saí para jantar com amigos dos tempos da faculdade. Falamos sobre coisas diversas, família, outros amigos, amenidades, cena política, etc, etc. Mas é difícil não falar de economia, não é mesmo? Pois lá fomos para esse tema que tanto amamos. E detestamos, em uma simetria que só as relações intensas e apaixonadas proporcionam... Falamos de muitas coisas, mas sobretudo sobre a falta de autocrítica dos heterodoxos em face da Nova Matriz Econômica, em particular, e do intervencionismo pós-2006, de modo geral.
Vamos aos fatos, leitor. Um heterodoxo de raiz vai sempre discordar da autorregulação do mercado. Com efeito, vai propor uma política macroeconômica ativa, seja para contrapor o desemprego do fator trabalho ou para combater a ociosidade do capital. Vai também propor intervenção na microeconomia, porque acha que os incentivos presentes no mecanismo de preço não são suficientes para gerar desenvolvimento econômico. Certo?
Há muita discordância entre os economistas heterodoxos sobre como fazer essas intervenções, na macro e na micro, mas, a meu ver, existe um consenso de que elas precisam ser feitas.
Não vou entrar no mérito das inúmeras receitas disponíveis para intervir no mercado, das diversas correntes de pensamento existentes Brasil a fora. Meu ponto aqui é o seguinte: os economistas heterodoxos precisam avançar na avaliação dessas intervenções.
Quer um exemplo? Recentemente, o ex-ministro Nelson Barbosa criticou o contingenciamento de gastos recém anunciado pelo governo. Para ele, esse contingenciamento vai prejudicar o crescimento da economia.
Na cabeça do ex-ministro está o princípio da demanda efetiva e alguma ideia sobre multiplicadores fiscais. Isto é, dado um gasto do governo de R$ 100, isso vai gerar efeitos multiplicados sobre o organismo econômico. É como jogar uma pedra no rio e ver seus efeitos se perfilarem não só no ponto onde a pedra caiu, mas ao redor dela.
Pois bem, leitor. Onde está o dado do efeito multiplicador do gasto? A política fiscal, afinal, tem sido amplamente expansionista nos últimos anos, por que, então, isso não gerou mais crescimento? O que impediu?
Os economistas heterodoxos precisam fazer a autocrítica no sentido de apresentar evidências empíricas para seus argumentos. Em outros termos, é preciso avaliar a intervenção sugerida.
Outro exemplo: por que os R$ 500 bilhões colocados no BNDES, via emissão de dívida por parte do Tesouro, não geraram mais investimento e crescimento econômico? O que deu errado?
Outro exemplo: por que a redução dos juros básicos em 2011 não gerou mais investimento e crescimento econômico? Por que deu errado?
Os economistas heterodoxos agem no momento como se a Nova Matriz fosse apenas um delírio da dupla Guido-Dilma, mas parecem não se dar conta que continuam sugerindo intervenções na macro e na micro, sem terem se quer avaliado por que as intervenções dos últimos anos não deram certo.
Não houve autocrítica. Mas eles continuam sugerindo o mesmo remédio: intervenção.
De novo: existem inúmeras receitas, mas você sempre vai ouvir ou ler alguma medida de intervenção na macro e na micro por parte dos economistas heterodoxos.
Quando você vai ler alguma autocrítica?
Creio que isso melhoraria muito o debate sobre os problemas que temos pela frente. Um economista, afinal, foi treinado para avaliar custos e benefícios de uma determinada política ou ação. Em termos de política pública, se os custos excedem os benefícios, ela precisa ser abandonada urgentemente. Sem apego.
O que tenho visto na realidade é justamente o contrário. O caso do gasto público, nesse contexto, parece ser emblemático. Mesmo diante do enorme custo imposto à sociedade pelo aumento dos gastos no pós-2006 - quem lembra da famosa frase gasto é vida? -, não são poucos os economistas que continuam sugerindo a mesma medida para enfrentar a recessão que vivemos.
Falta avaliação de custos e benefícios, não é mesmo? Falta, em resumo, saber lidar com a evidência empírica...
Quando bato na tecla de que a formação de um economista precisa ser absolutamente mainstream, composta por teoria econômica e por ferramentas quantitativas, estou implicitamente pensando em uma pessoa que vai ter instrumentos para avaliar custos e benefícios de uma ação qualquer. Seja na iniciativa privada, seja no governo.
Isso, claro, não impede que alguém abrace uma formação mais heterodoxa. Mas ele terá instrumentos para avaliar as intervenções que sugere ou pratica.
Isso dito, preciso perguntar: a autocrítica não vem porque não sabem lidar com a evidência empírica disponível?
Comentem aí! 🙂
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