Os dilemas de um economista prático

Para cumprir sua missão, o economista se especializa em diferentes áreas. O economista teórico trata de melhor entender as diversas relações econômicas, sem se preocupar com suas aplicações práticas. O que este profissional faz é azeitar o caminho para as aplicações posteriores. O economista teórico é um cientista em sua essência mais pura. De suas pesquisas provêm o avanço da disciplina.

Já o economista prático busca, a partir da teoria econômica estabelecida, entender os problemas da realidade. E se a missão da profissão é prover o aumento generalizado de bem-estar social, é preciso fazê-lo basicamente via crescimento sustentável da produção. Quando um país cresce, mais pessoas alcançam emprego, renda é distribuída e a pobreza reduzida. Mas o que causa o crescimento?

Da teoria, o economista prático sabe que deve-se investir em três coisas para aumentar o crescimento econômico de um país: aumentar a acumulação de capital via maiores fluxos de investimento, melhorar a qualificação da população e investir em inovação tecnológica. Isso, claro, do lado da oferta, do lado do que se concentra no chão de fábrica, no processo produtivo em si.

Mas há outro lado. Se existem pessoas preocupadas em vender bens e serviços, combinando máquinas, pessoas e inovação tecnológica, basicamente, é porque existem pessoas dispostas a comprar esses produtos. Afinal, leitor, seria esquizofrênico abrir uma empresa de sorvetes se ninguém se interessasse por esse bem. Esse lado, os compradores, é o que os economistas chamam de demanda. É ela que, no curto prazo, comanda aquilo que os economistas teóricos convencionaram chamar de ciclo econômico.

O ciclo econômico é a expressão maior de que não existe equilíbrio automático entre as transações econômicas. Isto pode ser complicado ou muito simples de dizer. Um economista teórico lhe diria que entre compradores e vendedores existe uma assimetria de informação entre um e outro. Já o economista prático te diria que o vendedor não tem a menor ideia se conseguirá vender seus produtos, mesmo fazendo um plano de negócios bastante robusto. A consequência disso é que os estoques aumentarão e se isso acontecer por um tempo considerável, a ponto de interferir no fluxo de caixa, as empresas serão levadas a demitir seus funcionários, o que aprofunda ainda mais a recessão – dado que em termos agregados os compradores diminuirão ainda mais.

Como não há um planejador central, calculando o que exatamente será vendido e, com essa informação, produza a quantidade exata, a economia de mercado está fadada a alternar momentos de expansão com momentos de depressão. Os ciclos de estoques refletem essa característica básica de nosso sistema econômico.

Mas aqui, o leitor pode estar se perguntando por que afinal estou escrevendo essas coisas. Primeiro, para lhe dar a ideia de como as coisas são produzidas e como essas coisas são demandadas – havendo um poder de barganha do lado do comprador em relação ao vendedor. E aqui é que entram as escolhas que os economistas práticos devem fazer. Particularmente, sou fascinado por como um policymaker, um economista que trabalha diretamente com política econômica, pode tentar amenizar essa característica endógena da economia de mercado, via suavização dos ciclos.

Dentro da política econômica, estão à disposição do economista prático – ou agora já podemos chama-lo de macroeconomista – instrumentos monetários, fiscais, cambiais e de política que podem interferir nos períodos de recessão. Essa é, aliás, a gênese desse subcampo da macroeconomia. A política econômica deveria ser utilizada quando agentes econômicos, empresas e/ou famílias, não estão dispostos a exercer seu poder de compra, mantendo intactos seus encaixes financeiros.

O Banco Central pode baixar a taxa básica de juros de modo a, via canais de transmissão da política monetária, interferir nas decisões de consumo e investimentos dos agentes econômicos. O governo federal pode baixar alíquotas de impostos, pode elevar gastos de capital, desvalorizar a moeda visando aumentar as exportações ou mesmo interferir diretamente no mercado de crédito, dando dinheiro subsidiado a alguns setores ditos estratégicos para a retomada do crescimento econômico. Tudo isso, claro, quando a economia está lá cambaleando rumo ao precipício da depressão. A política econômica tem se constituído de instrumentos que atuam sobre a demanda. Ela é o bombeiro que entra quando a situação já é crítica.

Por outro lado, os economistas práticos podem ser preventivos, desenhando uma política econômica mais atuante sobre a oferta. Podem advogar pela melhora da qualidade da educação, insistir em programas de inovação tecnológica, na reforma tributária, na reforma trabalhista e, finalmente, na reforma do judiciário. Essas são condições de oferta. Afinal, tais medidas têm impacto direto sobre as causas do aumento da oferta de bens e serviços, e em última instancia, na geração de emprego.

A combinação de políticas voltadas para a demanda, quando a coisa está feia, com políticas voltadas para a oferta, quando o pensamento é no futuro, é o que faz do economista prático estar constantemente sendo chamado ao debate de ideias. Para cada uma das questões que coloquei nesses poucas linhas, tenha certeza leitor amigo, existem muitas discordâncias.

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