
O grupo alimentos e bebidas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se divide em: alimentação dentro e fora do domicílio. Em termos de peso no orçamento das famílias, 65% do grupo alimentos é representado pelo subgrupo alimentação dentro de casa e o restante pela alimentação fora. Nos últimos 41 meses, por exemplo, cerca de 5,5 pontos percentuais daqueles 9,12% podem ser atribuídos à alimentação dentro de casa, enquanto o restante à alimentação fora. Isso, entretanto, não diz muita coisa, dado que as pessoas gastam mais com os alimentos que compram para dentro de casa.
Mais interessante, nesse contexto, é verificar o comportamento desses dois subgrupos ao longo do tempo. A despeito de ter mantido crescimento médio, no acumulado em 12 meses, de 8,5%, a alimentação no domicílio apresenta uma oscilação maior. Isto porque, esse subgrupo reage mais intensamente aos problemas climáticos, apresentando altas exacerbadas em momentos de secas prolongadas, por exemplo. Tão logo, entretanto, o problema climático que originou a alta se dissipe, ele tende a se aproximar da meta de inflação.
Observa-se comportamento distinto do subgrupo alimentação fora do domicílio. Tanto sua média é mais elevada, 10,2%, quanto a oscilação é menor. Em outras palavras, ele não retorna à meta de inflação, como a alimentação dentro de casa. Isto porque, este subgrupo reage mais intensamente aos custos observados por bares, restaurantes e demais estabelecimento do gênero. Dado que esses serviços são intensivos em mão de obra e o desemprego tem permanecido baixo ao longo dos últimos anos, observa-se que a inflação no subgrupo alimentação fora de casa se mantém distante da meta.
Sabe-se hoje que a inflação é função direta da diferença entre as taxas de crescimento dos salários reais e da produtividade. Com o desemprego baixo, aqueles sobem mais do que essa, o que gera uma pressão de aumento sobre os preços. O componente da inflação de alimentos que mais reage aos problemas climáticos volta à meta tão logo o choque inicial se dissipe. Já o componente que é impactado diretamente pelo comportamento da diferença entre salários e produtividade, não.
O exemplo dos alimentos fora de casa é interessante, leitor, porque serve para entender o que tem causado a inflação atual. Enquanto aumento generalizado e persistente de preços, a inflação é função direta da condução da política econômica. Como, nos últimos anos, mantivemos incentivos monetários, fiscais e parafiscais (uso de bancos públicos) a todo vapor, isso contribuiu para manter os salários crescendo acima da produtividade. Esse descolamento causou uma inflação média acima de 6% nos últimos anos; com alguns itens, como serviços ou alimentação fora de casa, tendo inflação acima de 9%.
Em assim sendo, para voltar a ter a inflação oscilando em torno da meta de 4,5%, será necessário reorientar a política econômica. Não apenas a política monetária, mas também a fiscal e o crédito subsidiado dos bancos públicos. Sem essa correção, continuaremos a ter inflação permanentemente elevada. E com risco de sair integralmente de controle.