Vencemos, e agora?

Podem abrir o champanhe, posto que a senhora cujo nome não se deve pronunciar não volta. Grifo nosso. A eleição de Rodrigo Maia para a Câmara dos Deputados é sinal inequívoco nessa direção. O governo provisório mostra intimidade com o Congresso, de sorte que há pouca probabilidade de reversão do processo de impeachment. Dito isso, e agora, José, perguntam os incautos.

Advertência. O Congresso é horrível, a periferia da Esplanada dos Ministérios idem. O judiciário acovardado continua com suas benesses e salários polpudos. A República não é lá grandes coisas, ok? Dito isso, seja qual for a sua opinião sobre o processo de impeachment, aqui vai a opinião dos que estudam economia: é um alívio a senhora ter saído!

O Brasil estava indo para o buraco. Sim, bu-ra-co. A trajetória da dívida pública tornou-se explosiva de 2014 para cá. Havia no mercado um mau humor danado em financiar o Tesouro. Os leilões de venda de títulos por vezes encalhavam, de sorte que o Tesouro era obrigado a repassar a batata quente para o Banco Central e este fazia o trabalho sujo por meio das operações compromissadas. Hoje sem números, mas se você é leitor regular desse espaço, sabe do que estou falando, não é mesmo?

Se o Tesouro não consegue vender seus Títulos, ele tem que pagar mais para que os mau humorados de plantão os aceite, ok? E isso realimenta o processo explosivo, dado o aumento da conta de juros. A taxa básica de juros, controlada pelo Banco Central, explica apenas uma parte, ok? Não se engane com maldizeres por aí. O grosso vem do mau humor...

Na outra ponta, despesas primárias (que excluem juros) passaram a dominar as receitas, de sorte que um déficit primário surgiu. Mais gastos do que receitas todo ano desaguam em mais dívida pública. Mais dívida pública, mais mau humor, mais juros, mais dívida... Até que não é mais possível se financiar no mercado de títulos, ops, vai financiar como, cara pálida?

Há três formas que o governo pode se financiar: via imposto, via emissão de títulos e via emissão monetária. Grifo nosso. Emitir moeda para financiar o déficit primário de governos é o caminho mais rápido para uma doença de difícil controle chamada hiperinflação.

Era para onde estávamos indo, leitor. Pausa dramática.

De novo, você pode achar que foi golpe. Pode achar que substituímos seis por meia dúzia. Que o Temer é um bandido, que o Renan é safado, que o Rodrigo Maia é do DEM. Que está tudo errado com o Brasil...

Sim, você tem razão. Mais, de novo, aqui vai a opinião dos que estudam economia: é um alívio a senhora ter saído! O Brasil estava indo para o bu-ra-co. Sim, bu-ra-co. A trajetória da dívida pública tornou-se explosiva...

Vencemos. Não quem apoiou o impeachment. O Brasil venceu. Mostrou que não quer a volta da hiperinflação. Mostrou. Grifo nosso.

Mas, e agora?

Agora é trabalhar para mudar a trajetória do endividamento público. Como? Para que o estoque mude de direção, o fluxo precisa mudar. As despesas primárias do governo central crescem o dobro do PIB há 20 anos. Nenhum país do mundo suporta isso, ok?

Para que as despesas parem de crescer nesse ritmo, tem que mexer com a forma como eles aumentam ao longo do tempo. O governo provisório tem um plano: limitar o crescimento do gasto à inflação passada. É um bom plano?

Na minha opinião, não. Não gosto de indexar nada à inflação passada, porque isso pode aumentar a inércia. Preferiria que fosse limitado à inflação futura, mas, ei, para hoje é o que se tem. A PEC que limita o crescimento do gasto é o projeto mais importante para o país em 2016. Grifo nosso. Uma vez aprovado, melhora o humor do mercado, a confiança volta, os investimentos voltam e quem sabe a gente não cresce 1% ano que vem?

E o resto? Tem muito o que fazer: tem que aprovar um monte de reforma, tem que fazer a inflação convergir para a meta, tem que dar autonomia às agências reguladoras, tem que rever o papel do BNDES e sim, tem que privatizar um monte de coisa.

Mas, ei, primeiro, vamos interromper a ida para o bu-ra-co, ok?

Bom fds! 🙂

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