Na semana passada, o Banco Central acabou cedendo à tentação e aumentou a taxa básica de juros em 75 pontos-base, para 2,75% ao ano. A despeito de ser um valor bastante baixo para os padrões brasileiros, o juro na ponta, aquele que é pago por pessoas físicas, ainda permanece bastante elevado. Nesse Comentário de Conjuntura, vamos explorar um modelo que procura explicar os motivos para essa diferença.
Membros do Clube AM, por suposto, têm acesso a todos os códigos desse exercício.
O gráfico abaixo ilustra a diferença entre a taxa básica de juros e os juros associados ao crédito livre, pessoa física.
Como se pode ver no gráfico, enquanto a taxa básica de juros na ponta flertou com os 2% (na série mensal terminada em janeiro de 2021), o juro pago por pessoas físicas estava próximo aos 40%. A diferença entre um e outro ponto pode ser explicado, basicamente, pelo spread bancário.
O spread bancário expressa "a diferença entre os juros que o banco te paga para captar os recursos (quando você empresta dinheiro ao banco por meio da poupança e de renda fixa) e os juros que esse mesmo banco cobra para te emprestar dinheiro (em um empréstimo ou financiamento)". Como pode ser visto no gráfico acima, há, de fato, uma queda muito forte do spread nos últimos anos, ainda que o mesmo permaneça em patamar bastante elevado.
Por que, então, o spread ainda é tão alto no Brasil?
Atualizamos no âmbito do Clube AM um modelo que explica o spread bancário no Brasil. A tabela abaixo relata o modelo.
Dependent variable: | |
spread | |
provisoes | 0.758 |
(0.614) | |
compulsorio | 0.016*** |
(0.003) | |
inadimplencia | 1.689*** |
(0.443) | |
selic | 0.500*** |
(0.037) | |
desemprego | 0.524*** |
(0.138) | |
Constant | -8.742*** |
(1.613) | |
Observations | 106 |
R2 | 0.915 |
Adjusted R2 | 0.910 |
Residual Std. Error | 0.855 (df = 100) |
F Statistic | 214.116*** (df = 5; 100) |
Note: | *p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01 |
Das variáveis que podem ser candidatas para explicar o spread bancário, a inadimplência, a taxa básica de juros e o desemprego aparecem como variáveis explicativas mais relevantes. Em outras palavras, o juro a pessoa física ainda é alto no Brasil porque há ainda muita dificuldade para recuperar o dinheiro que é emprestado por instituições financeiras e também porque a conjuntura de curto prazo permanece tendo efeito sobre o spread.
Membros do Clube AM, por suposto, têm acesso a todos os códigos desse exercício.
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