Uma piada bastante conhecida nas faculdades de economia é que Deus teria inventado o câmbio para humilhar os economistas. De fato, dada a enorme quantidade de fatores que o influenciam, é bastante desafiador tentar realizar alguma previsão decente dessa variável. Mas há algumas pistas, como exploramos nessa edição do Comentário de Conjuntura.
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Um modelo econométrico bastante utilizado para entender a trajetória da taxa de câmbio no Brasil foi proposto pelo Banco Central nos idos de 2001. O modelo era o seguinte:
(1)
onde:
é a taxa de câmbio;
é a taxa básica de juros do Br;
é a taxa básica de juros do US;
é uma medida de risco;
é a inflação do Br;
é a inflação do US.
Sobre a equação acima, por suposto, aplicamos a restrição de que , isto é, a variação do câmbio nominal, no equilíbrio, deve ser igual ao diferencial de inflação.
Nos últimos anos, a propósito, a previsão do câmbio tem sido ainda mais desafiador porque justamente uma das principais variáveis que interferem na sua trajetória é o ambiente político-econômico do país, que tem como proxy no modelo acima a medida de risco.
Para estimar esse modelo, nós baixamos os dados com o R do Banco Central, do FRED St Louis e do IpeaData. A coleta dos dados é seguida do seu tratamento, de modo a adequar os mesmos à estimação do modelo proposto acima. As variáveis ficam então apresentadas como no gráfico abaixo.
É esperado que o prêmio de risco tenha efeito positivo sobre o diferencial do câmbio, i.e., que cause desvalorizações cambiais enquanto o diferencial de juros exerceria pressão contrária. A tabela abaixo resume a estimação do modelo, com a imposição de restrição que fizemos.
Estimate | Std. Error | t value | Pr(> | t| ) | |
dlcambio_l1 | 0.560 | 0.063 | 8.818 | 0 |
ddif_juros | -0.566 | 0.311 | -1.819 | 0.072 |
dlrisco | 0.198 | 0.025 | 7.881 | 0 |
dif_inflacao | 0.440 | 0.063 | 6.938 | 0 |
Os coeficientes estimados possuem os sinais esperados e apresentam significância estatística, com a imposição de restrição. O diferencial de juros aprecia a taxa de câmbio, enquanto o prêmio de risco tem efeito depreciativo.
Uma vez estimado o modelo e entendido a relação empírica entre as variáveis, o que podemos dizer sobre o período atual?
Por um lado, temos tido um aumento do risco-país, dada a deterioração do ambiente político-fiscal dos últimos meses. É esperado, inclusive, que essa deterioração continue no próximo ano, principalmente por causa das eleições.
Por outro lado, o aumento da taxa básica de juros, a Selic, em reação ao processo inflacionário descontrolado, tem tido influência sobre o diferencial de juros, o que em tese atrairia investimento em carteira para o Brasil e atenuaria essa pressão por desvalorização. Essas forças antagônicas dão o tom da trajetória do câmbio no curto prazo, gerando uma volatilidade bastante intensa.
Por óbvio, o modelo é simplificado ao ponto de não incluir outros atores importantes, em particular, a autoridade monetária, que pode (e deve?) intervir no mercado de modo a tentar suavizar esse aumento de volatilidade no curto prazo.
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(*) Para maiores detalhes sobre o uso desse tipo de modelo para fins de previsão, conheça nossos Cursos de Previsão Macroeconométrica e Modelos Preditivos aplicados à Macroeconomia.