Por que o ódio ao mercado financeiro?

Eu nunca quis trabalhar no mercado financeiro na época da graduação em economia. Tão logo as aulas começaram, a pesquisa em macroeconomia me seduziu. Isso, entretanto, não foi um impedimento para tomar cursos na área, dado que produtos financeiros sofisticados são hoje uma realidade de qualquer economia minimamente integrada. Eles me interessam sempre na medida em que servem para entender o comportamento de alguma variável macroeconômica ou na transmissão de decisões de política econômica, por exemplo. Isso dito, eu confesso que tenho uma grande dificuldade para entender o porquê de algumas pessoas se mostrarem raivosas em relação ao mercado financeiro. Você explica, leitor?

Quase que diariamente, é verdade, as pessoas me consultam sobre qual seria o melhor investimento para se fazer. Aproveito para dizer nesse espaço que não sou a melhor pessoa para ser perguntada sobre isso. Não tenho pleno conhecimento sobre os produtos disponíveis, me limitando apenas a dar o clássico conselho para que a pessoa observe seu perfil de risco (se conservador, moderado ou agressivo) e listo as opções básicas disponíveis (fundos de renda fixa, tesouro direto, ações, ouro, câmbio...). Para que a pessoa não se chateei comigo, entretanto, desvio a conversa para a macroeconomia onde posso falar com um pouco mais de detalhamento. Em geral as pessoas agradecem e falam que vão passar a acompanhar os destinos da taxa básica de juros - é um desses truques da vida que a gente aprende na profissão.

Nessas conversas percebo que há um certo preconceito contra quem trabalha no mercado financeiro ou sobre determinadas instituições financeiras. Bancos, principalmente. Você pode fazer o teste. Pergunte se alguém acha justo que um banco ganhe dinheiro por pegar o seu dinheiro e emprestar para outro. Em geral, a opinião prevalecente é que o mercado financeiro é um grande cassino, onde se ganha dinheiro sem produzir algo tangível para a sociedade. Logo, seria injusto.

Minha postura é condicional nesses casos. Depende da pessoa. Se ela for flexível, eu geralmente lhe questiono sobre algumas decisões que ela já tomou na vida. Se tem cartão de crédito, se já fez algum empréstimo, se tem hipoteca, se já comprou um carro financiado etc. Se ela é do tipo que se agarra a alguma bandeira vermelha, não perco muito o meu tempo. As pessoas que se enquadram nessa categoria, em geral, ouvem minhas palavras por um ouvido e deixam que elas saiam pelo o outro.

O mercado financeiro tem uma função primordial em uma economia de mercado. Ele é responsável por intermediar operações entre devedores e poupadores. Sem ele você provavelmente teria que colocar aquele dinheiro que sobra do seu salário debaixo do colchão - e apenas observar seu poder de compra ser corroído pela inflação, sem poder se defender dessa violência. Com ele, o bem estar da sociedade se eleva em muitos graus. O nosso atual padrão de vida, por exemplo, dificilmente poderia ser alcançado sem um mercado financeiro sofisticado como o que se dispõe.

Em assim sendo, você poderia pensar um pouco sobre o assunto antes de criticar os bancos. Será que eles são os verdadeiros culpados pelos juros elevados que cobram? A resposta pode ser mais surpreendente do que você imagina... 🙂

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