O PIB crescerá abaixo de 4% em 2011

O IBGE divulgou hoje a Produção Industrial Mensal referente ao mês de março. Abaixo segue uma tabela com o resumo dos cinco números-índices divulgados, tanto para fevereiro quanto para o último dado.

O IBGE chamou atenção no seu "comunicado à imprensa" que no acumulado de três meses o índice mensal dessazonalizado registrou uma alta de 2,8%. Para o instituto isso evidenciaria uma "aceleração no ritmo produtivo", dado que em janeiro a aceleração frente à dezembro foi de 0,3% e em fevereiro foi de 2%, frente a janeiro. Como nesse ano o carnaval caiu em março, o número de 0,5% na margem deve ser relativizado. Em outras palavras, a expansão da indústria estaria se consolidando, após um 2010 de franca diminuição do ritmo - novamente na margem.

Entretanto, se a gente olha o acumulado em 12 meses (vide gráfico abaixo) nota-se uma diminuição de ritmo, pontuada desde outubro do ano passado - fenômeno igualmente observado pelo IBGE. O que parece estar ocorrendo com esse índice é que dada a base fraca do período anterior (por conta da crise), o acumulado aumenta até outubro, se estabiliza, e começa a diminuir a partir de então, refletindo uma base de comparação maior. Isso já estava precificado pelo mercado, dado que os aumentos verificados anteriormente refletem um uso da capacidade ociosa deixada pela crise. A continuação de crescimento daqui para frente dependeria de novos investimentos em aumento da capacidade instalada. E isso só ocorrerá com expectativas positivas para o cenário futuro.

O Banco Central apontou, tanto no Relatório de Inflação quanto na própria ata divulgada semana passada, que o crescimento brasileiro se encaminha para "patamares mais compatíveis" com o produto potencial. Não necessariamente, portanto, estaria ocorrendo uma desaceleração mais profunda do nível de atividade, mas apenas uma acomodação a patamares mais adequados. O índice que mede o acumulado no ano, mês a mês, também indica uma tendência de declínio das taxas de crescimento, refletindo a mesma tendência apontada no parágrafo acima.

Como o mês de março foi muito contaminado pelo período festivo, o número de 0,5% não é um bom indicativo se na margem estaria ocorrendo ou não uma "aceleração do crescimento". Justamente por isso o IBGE pontuou o acumulado no trimestre do índice dessazonalizado: 2,8% seria um número respeitável. Desse modo, o que se vê é que de fato a produção industrial parece não se arrefecer frente aos problemas mais estruturais provocados pela taxa de câmbio sobreapreciada. Isso é um dado positivo a ser retirado da pesquisa.

Entretanto, ainda não se pode concluir que a desaceleração da economia não é um fato preocupante. A projeção de 4,5% do Banco Central - contida ainda no (problemático) Relatório de Inflação divulgado em março - me parece um pouco "otimista demais", dado que está muito influenciado por quatro coisas: i) o cumprimento integral do superávit primário; ii) "sobrevalorização" das medidas prudenciais; iii) peso elevado ao choque de oferta externo; iv) menor ritmo de elevação da taxa básica de juros.

Como pode ser lido na ata do COPOM divulgada na semana passada, "o ajuste total da taxa básica de juros será suficientemente prolongado". E, não tenha dúvidas leitor, isso terá impacto nos índices de confiança dos empresários. Dada a defasagem embutida nos mecanismo de transmissão da política monetária, é possível prever que a desaceleração da economia brasileira irá além do previsto inicialmente pela autoridade monetária. Trocando em miúdos: dificilmente cresceremos a 4,5% em 2011. O mais provável é que o PIB fique mesmo entre 3% e 4%, como já admite, por exemplo, o quase sempre otimista grupo de conjuntura do IE/UFRJ. Vale concluir, portanto, que uma vez mais se repetirá a correlação estreita entre ciclos de aperto monetário e redução de crescimento do PIB no Plano Real.

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