Previsão da produção industrial

confiancaAltos e baixos no clima nesses primeiros quatro meses de 2014. O verão intenso de janeiro e fevereiro deixou problemas na inflação de alimentos e aprofundou a crise no setor elétrico. Já as temperaturas amenas de abril parecem ter resfriado tanto a confiança quanto a expectativa de consumidores e empresários. É o que se depreende da leitura dos índices da Fundação Getúlio Vargas. A produção industrial deve reagir a contento, enquanto os índices de inflação teimam em se manter em patamar elevado. Abril foi inóspito para a economia brasileira.

O gráfico acima ilustra o comportamento dos números índices da confiança nos setores de comércio, indústria, serviços, construção e também dos consumidores. Todos em declínio nesse primeiro quadrimestre. Na comparação com o mês de abril do ano passado, por exemplo, a confiança do consumidor caiu 6,8%. Se a confiança dos agentes no ambiente econômico é ruim, isso se reflete no que esperam para o futuro. Os índices de expectativa captam esse movimento, como pode ser visto abaixo.

expectativa

Índices de confiança e expectativa ruins costumam antecipar resultados nada bons no nível de atividade. Em particular, a produção industrial de março deve refletir a piora no ambiente econômico. Para captar esse pesimismo eu estimei alguns modelos. O que apresentou as melhores medidas de desempenho, bem como passou nos testes corriqueiros foi o a com a especificação abaixo:

PIMPF_MENSAL = C(1)*PIMPF_MENSAL(-1) + C(2)*CONFIANCA_F + C(3)*VEICULOS + C(4)*SELIC(-18) + C(5)*NUCI + C(6)

previsao

Para gerar uma previsão da produção industrial entre março e dezembro desse ano foi utilizada a série de Confiança Industrial da Fundação Getúlio Vargas (CONFIANCA_F), a série de produção de veículos da ANFAVEA (VEICULOS), a taxa básica de juros (SELIC) e o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI). O período da amostra foi de julho de 2004 a fevereiro de 2014, totalizando 116 observações. Os resultados estão compilados na tabela abaixo.

tabela

Como pode ser observado, para os meses de março e abril a produção industrial deve ficar em zona negativa, refletindo a perda de confiança dos empresários, a queda na produção de veículos e a redução no nível de utilização da capacidade instalada. Em outras palavras, todos os indicadores antecedentes indicam perda de fôlego na produção industrial nesses e nos próximos meses, o que é ratificado pelo modelo colocado acima.

Importante ressaltar que na segunda-feira o IBGE realizou um seminário para explicar algumas mudanças metodológicas na pesquisa da produção industrial, o que deve gerar impacto sobre os números colocados acima. É esperado que com a adição de setores de TI haja algum avanço no crescimento da produção. Em outras palavras, os números da projeção acima podem estar subestimando o avanço do setor ao longo de 2014. Isso, entretanto, é reflexo de números antecedentes muito ruins. Em particular, a queda na produção da automóveis, que possui grande influência na indústria de transformação. A PIM-PF de março será divulgada pelo IBGE no próximo dia 7 de maio.

inflação

A despeito de perspectivas nada favoráveis para o nível de atividade nos próximos meses, a inflação caminha na direção contrária. A tabela acima resume alguns índices de preços. Como pode ser visto, em termos anuais, todos situam acima de 6%. Em particular, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve refletir em abril o choque de alimentos e o aumento de tarifas - que comentarei na próxima semana -, se aproximando do teto do intervalo de confiança. Em outras palavras, a economia brasileira vive nesse momento uma perspectiva bastante clara de estagflação: estagnação do nível de atividade com aumento generalizado de preços. É, em assim sendo, um cenário bastante pessimista.

 

 

(*) Interessados no modelo podem me enviar e-mail que eu repasso o arquivo do eviews. 

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Previsão do Ibovespa utilizando IA (TimeGPT) + Python

Historicamente, métodos estatísticos como ARIMA, ETS, MSTL, Theta e CES têm sido confiavelmente empregados em diversos domínios. Na última década, modelos de aprendizado de máquina como XGBoost e LightGBM ganharam popularidade. Agora, podemos entrar em uma nova fase na era da previsão: o uso da IA Generativa para a previsão de séries temporais. Neste exercício, demonstramos de forma introdutória o TimeGPT e criamos um exemplo usando o Ibovespa.

Previsão do Ibovespa com Chain-of-Thought + Python

Realizar previsões de séries financeiras é uma tarefa inglória. Ainda mais quando utiliza-se uma variável tão errática quanto um índice de mercado. Mas, e se ao invés de utilizarmos modelos já conhecidos, fazermos o uso da IA Generativa? Neste exercício usamos Gemini, Python e técnicas de Engenharia de Prompt e Árvore de Pensamento para prever o Ibovespa.

Modelo de Previsão da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) para 2025

Neste exercício, contruímos um algoritmo simples de cenarização para a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em % do PIB, usando apenas dados públicos, simulações estatísticas, a literatura recente e a linguagem R. Em uma abordagem semi-automatizada, as simulações do modelo se aproximam das previsões do mercado para o ano de 2025.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.