Ata do Copom abre espaço para "parada técnica" a partir de agosto

A ata do Copom, divulgada na última quinta-feira, não é clara sobre a continuação do ciclo de aumento da taxa Selic. E nem era esperado que fosse. O Banco Central trabalha com dois problemas: pressão inflacionária doméstica e cenário externo. O primeiro é causado, notadamente, pelo aumento de preço de serviços, diretamente influenciados pelo mercado de trabalho aquecido e pelo contínuo aumento do crédito - ainda que a taxas mais modestas que as verificadas nos últimos trimestres. Já o segundo, como todos sabem, vem dos problemas do Velho e também do Novo Mundo. O pacote grego não eliminou o risco de default na zona do euro, assim como o problema americano não é apenas aumentar [ou não] o teto da dívida: é preciso verificar se a economia dos EUA conseguirá se recuperar nos próximos anos.

Não fosse o problema com o cenário externo, a autoridade monetária faria uma "parada técnica" na próxima reunião [ou já teria feito nessa reunião de julho], dado que precisa considerar a defasagem na transmissão das medidas de política monetária (sejam as macroprudenciais, seja o aumento da taxa Selic). Isso fica bastante claro no parágrafo 28, quando diz que:

"No âmbito interno, ações macroprudencias e, principalmente, ações convencionais de política monetária recentemente implementadas ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços, processo que tende a se acentuar neste semestre. Embora incertezas elevadas e crescentes que cercam o cenário global e, em escala marcadamente menor, o cenário doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis".

Isto é ratificado se olharmos para os três últimos processos de elevação da taxa Selic (gráfico abaixo). No ciclo atual o Copom já elevou a taxa básica em 375 pontos-base, igualando-se ao período entre junho de 2004 a maio de 2005. Se somarmos as medidas macroprudenciais adotadas (aumento de compulsório e maior exigência de capital dos bancos para empréstimos) esse é o maior aperto monetário dos últimos anos.

(clique na figura para ampliar)

Tal aperto está em consonância com a persistência e complexidade do processo inflacionário. O Banco Central vem lidando, desde o final de 2010, com vários incêndios nesse campo. Lidou com um choque de oferta externo e interno, fruto de aumento de preços de commodities e custos de alguns preços administrados internos. Além disso, teve que observar uma maior pressão sobre o hiato do produto, em um claro descolamento da demanda global em relação à oferta interna. Inflação de demanda e de custos exigiu, portanto, uma tomada de posição bastante agressiva da autoridade monetária brasileira, se comparada aos demais bancos centrais do mundo. E isso, para os que acompanham a condução da política monetária brasileira não é novidade: apenas a demonstração cabal da aversão à inflação que ainda persiste na sociedade brasileira.

Como mostrado, o Copom entende que o cenário prospectivo para a inflação apresentou melhoras. Tal visão apoia-se em alguns fatores, a saber: i) dissipação dos choques de oferta que afetaram a economia brasileira no primeiro trimstre; ii) redução do índice de difusão do IPCA, mostrando menor disseminação da alta de preços; iii) perspectiva de menor repasse de alta de preços do atacado para os preços ao consumidor; iv) maturação de investimentos realizados ao longo de 2010; v) efetivação do superávit-primário e consolidação fiscal conforme anunciado pelo governo central; vi) expansão mais moderada do crédito; vii) efeito [defasado] das medidas macroprudenciais e do aumento da taxa selic no segundo semestre. Em assim sendo, o Copom entende que a inflação, no acumulado de 12 meses, deve começar a recuar a partir do último trimestre de 2011.

Mas tudo isso seria indicativo de que o Copom parará de subir a Selic a partir da próxima reunião? No Relatório de Inflação, divulgado em junho, há uma tabela interessante sobre essa questão (posta abaixo). Tomando como hipóteses básicas que a Selic se manteria constante em 12,25% a.a. ao longo de todo o período de referência (até o segundo semestre de 2013) e que a taxa de câmbio ficaria em 1,60 R$/US$, a mediana das projeções para o IPCA indicava convergência para a meta somente no segundo trimestre de 2013. Ao fim de 2012 [conforme compromisso do Banco Central assumido no relatório de dezembro de 2010], a mediana estaria em 4,8%, um pouco acima da meta, portanto.

 

Como a construção dessa tabela é coberta por incertezas - daí a necessidade de construção de intervalos de confiança - o que se pode inferir de concreto é que a mediana das projeções cai ao longo dos trimestres, indicando que as medidas adotadas pelo Banco Central terão o efeito esperado. Desse modo, caso não haja nenhum dado novo vindo do cenário externo [maiores problemas com a Europa, com os EUA e com a própria China] a minha aposta é em uma parada técnica já na próxima reunião, dada a maturação daquelas condições listadas acima.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Como tratar dados no Python? Parte 5: renomeando colunas

Como dar novos nomes significativos para as colunas em uma tabela de dados usando Python? Neste tutorial mostramos os métodos de renomeação de colunas disponíveis na biblioteca pandas, que tem como vantagem sua sintaxe simples e prática.

Como tratar dados no Python? Parte 4: operações por grupos

Como mensalizar dados diários? Ou como filtrar os valores máximos para diversas categorias em uma tabela de dados usando Python? Estas perguntas são respondidas com os métodos de operações por grupos. Neste tutorial mostramos estes métodos disponíveis na biblioteca pandas, que tem como vantagem sua sintaxe simples e prática.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.