Blanchard, Delfim Neto e um pouco de política monetária

O ex-ministro Delfim Neto publicou um artigo hoje no jornal Valor Econômico sobre a pretensa mudança proposta pelo FMI em seus novos documentos. No mesmo, Delfim traz alguns pontos destacados em artigo recente publicado pelo também economista Blanchard, que seguem abaixo com os meus comentários:
1) da necessidade de obrigar as pessoas a repensarem algumas coisas e mostrar que o próprio FMI é capaz, também, de algumas novas reflexões;
Para quem defendia até bem pouco atrás que a liberalização da conta capital e a implementação de câmbio flutuante, por exemplo, como premissas infalíveis isso é um grande avanço.
2) de sugerir que a política monetária tornou-se simplista demais. A realidade não confirmou a afirmação que, fixada a taxa básica de juros, tudo se ajustaria;
Há muito desconhecimento sobre isso. A regra de Taylor nunca foi o único modo de se fazer política monetária. Mesmo em países que adotaram o Regime de Metas de Inflação, a utilização de outros instrumentos sempre foi um dado importante.
3) de mostrar que quando a taxa básica é nula aparecem muitas dificuldades e se exige uma participação mais forte da política fiscal;
Isso já era conhecido desde a publicação da Teoria Geral, em 36. Mesmo no simples modelo IS-LM essa hipótese está contida - é o caso da LM horizontal. Não há novidade alguma em relação a isso, portanto.
4) de discutir se uma taxa e inflação de 4% não poderia servir melhor à sociedade e à política econômica, mesmo porque entre 2% e 4% o custo da inflação não é muito maior. Hoje parece claro que seria melhor ter escolhido 4%. Como se escolheu 2%, uma mudança agora poderia criar um problema de credibilidade;
Aplicando ao Brasil seria algo como trocar uma meta de 4,5% por outra de 6,5%. Tem muito economista que é simpático a essa idéia. O problema é que como ainda restam (muitos) mecanismos de indexação, a expectativa de inflação automaticamente reproduziria esse novo nível para o período seguinte. Se você acrescenta choques (de oferta e de demanda), rapidamente a inflação brasileira estaria em dois dígitos. E assim sendo, os juros [tão criticados no atual nível] se elevariam.
5) de colocar a questão de se os bancos centrais não deveriam levar em conta outros objetivos, usar instrumentos macroprudenciais para reforçar o papel da taxa de juros e cuidar melhor da estabilidade e liquidez do sistema financeiro;
Dentro do regime de metas de inflação o Banco Central do Brasil trabalha com dois objetivos (inflação e estabilidade do sistema financeiro). Para alcança-los faz uso de alguns instrumentos, dentre eles: compulsório, redesconto e taxa básica de juros. Talvez seria o caso de colocar mais um objetivo: o crescimento [ou a redução do desemprego]. Mas será que dentro de um arcabouço institucional frágil como o nosso, ter dois objetivos conflitantes não levaria a escolha de um em detrimento do outro?
Além disso, nunca é demais lembrar que no longo prazo uma expansão monetária [redução de taxa de juros] sempre leva a mais inflação.
6) se não deveríamos construir um sistema de estabilizadores efetivamente automáticos, destinados à estabilização (por exemplo, um crédito fiscal aos investimentos) que entrem em vigor quando cai o PIB e o emprego, sem a necessidade de discuti-los no Congresso, o que lhes tira a eficácia.
O Brasil inventou isso. Basta ver o que o país fez na crise de 29.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Criando estratégias de investimento com IA no Python

Imagine ter a capacidade de pedir à inteligência artificial para criar uma estratégia de investimento baseada em indicadores técnicos ou regras específicas. Com o tempo sendo um recurso valioso, nem sempre é possível desenvolver um código por conta própria. Vamos mostrar como a IA, junto com Python, pode facilitar a criação de estratégias de investimento.

Análise de Tendência de Mercado com IA usando Python

Você está analisando o mercado acionário e se concentrando nos preços de uma ação específica. Ao longo dos dias, percebe uma mudança na trajetória dos preços e deseja entender o que está acontecendo por meio de notícias. Como automatizar esse processo de forma eficiente usando IA? Neste exercício, mostramos como utilizar o Python para essa tarefa.

Análise de Sentimento de Mercado com IA usando Python

Ler notícias diárias sobre empresas e ações listadas na bolsa pode ser maçante e cansativo. Mas, e se houvesse uma maneira de simplificar todo esse processo? Mostraremos como a IA generativa pode ajudar a captar o sentimento de notícias sobre companhias, automatizando todo o processo com Python e Gemini.

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.