A leitura da última ata do COPOM nos fez lembrar de Svensson (1997), no qual o autor trata de um regime de metas de inflação com a existência de uma meta intermediária: as expectativas de inflação do próprio Banco Central. O autor argumenta que a operacionalização do regime de metas em si é complicada haja visto que a autoridade monetária não possui controle perfeito sobre a taxa de inflação. A existência de falhas de mercado - como a rigidez de contratos - e defasagens nos mecanismos de transmissão da política monetária fazem com que o Banco Central possa afetar, apenas, a inflação futura. Desse modo, o uso das projeções de inflação como meta intermediária serviria de guia para alcançar o objetivo final da política monetária.
Woodford (2007) observa que um Banco Central comprometido com inflation forecast targeting ajusta o instrumento de política monetária de modo a garantir a convergência entre suas projeções de inflação e a meta previamente definida. O autor argumenta, ainda, que a implementação desse tipo de versão do regime de metas para inflação representa uma síntese entre a discrição e a adoção de uma regra. Isto porque nele é possível tornar claro para o público como o Banco Central vê a inflação no médio e longo prazo. Possibilita, portanto, que reações a choques de curto prazo, por exemplo, não causem mudanças bruscas nas expectativas de inflação.
Svensson (1997) apresenta como se operacionaliza o modelo de inflation forecast targeting. Para ilustrar, considere um modelo simples como em Barbosa (2010), com duas defasagens, uma Curva de Phillips, uma IS e uma função de perda L para cada período, como abaixo:
(1)
(2)
(3)
Onde é a taxa de inflação, é o hiato do produto, é a taxa nominal de juros, é a taxa de juros natural, e são, respectivamente, um choque de oferta e outro de demanda no período , conhecidos em , i.i.d.; e são parâmetros positivos e é um parâmetro que varia entre 0 e 1, medindo as preferências do Banco Central em relação à estabilização do produto.
Vamos considerar, por simplificação, que . Para calcular devemos nos atentar para as defasagens envolvidas no modelo. Mudanças na taxa de juros nominal afetam o hiato do produto com um período de defasagem e a inflação com dois períodos de defasagem. Desse modo, podemos expressar substituindo (2) em (1) de modo que:
(4)
Aplicando o operador esperança sobre (4), temos que:
(5)
Em outros termos, a expectativa sobre depende da taxa de juros nominal no período . Nessas condições, para que o Banco Central consiga minimizar (3) com respeito a é necessário que:
(6)
Nesses termos, de (5) e (6), podemos expressar como segue:
(7)
O ponto central, portanto, é que a minimização da função de perda em um regime de inflation forecast targeting é dada pela condição (6). As expectativas para funcionam como um guia para saber se o Banco Central conseguirá ou não cumprir a meta de inflação. Como observa Svensson (1997), uma meta intermediária da política monetária.
(**) Isso e muito mais é visto em nosso Curso de Análise de Conjuntura usando o R!
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Barbosa, F. H. (2010). Macroeconomia, mimeo.
Svensson, L. E. O. (1997). Inflation Forecast Targeting: Implementing and Monitoring Inflation Targets, European Economic Review, 41(July).
Woodford, M. (1994). Nonstandard indicators for monetary policy: Can their usefulness be judged from Forecasting Regressions? In Mankiw, G. (ed), Monetary Policy, Chicago: The University of Chicago Press.
___________. (2007). The Case for Forecast Targeting as a Monetary Policy Strategy, Journal of Economic Perspectives, 21(4):3-24.