O fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre, a continuação dos problemas na zona do Euro e a ainda tímida retomada norte-americana, somadas à mudança na remuneração da caderneta de poupança impulsionou a Curva de Juros a precificar mais dois cortes de 50 pontos-base cada. Isto é, na próxima reunião do Copom, a acontecer em 29 e 30 de maio, a Selic cairia para uma mínima histórica de 8,5%. Será?
Tenho minhas dúvidas a esse respeito. Tudo bem que o cenário é de ponto-morto tanto aqui como lá fora, mas é preciso salientar a defasagem da política monetária. Na ata da última reunião o Copom ressalta que mais cortes devem ser feitos com parcimônia. Isso era um recado duplo: dados os problemas com a caderneta de poupança e com a defasagem implícita na transmissão da política monetária.
Um entrave parece superado [ao menos, a princípio], já o outro não tem jeito: será preciso esperar. Em seus documentos oficiais, a autoridade monetária vislumbrava um cenário em que a inflação chegaria a março/abril em torno de 5%. É o que se vê no momento, muito em função do cenário de baixo nível de atividade e de queda das principais commodities. Além disso, o Banco Central sempre deixou claro que o nível de atividade só voltaria a demonstrar vigor a partir do segundo semestre, algo que a Indústria também concorda, mesmo a despeito do acúmulo de estoques verificado na passagem de fevereiro para março.
Um fator que pode pesar a favor do corte mais acentuado é a significativa preferência pela liquidez dos Bancos Europeus, evidenciando um aumento de desconfiança com respeito à recuperação da Europa no curto/médio prazo. Notícia divulgada hoje no Valor dá conta que o pacote de estímulo do BCE de cerca de US$ 1 trilhão não obteve os efeitos desejados [ao menos não de forma integral], quais sejam aliviar a crise de liquidez e gerar estímulos para que os bancos emprestassem mais. Nas palavras do jornal:
"Depois de três meses de certa normalização no início do ano, o mercado de financiamento bancário dá sinais de que voltará a parar. A depositar dinheiro em banco centrais, em vez de emprestá-lo a clientes ou usá-lo para outros fins, bancos europeus estão garantindo que terão acesso imediato a fundos se tiverem dificuldade para rolar dívidas ou se outras emergências - como o rebaixamento da nota de crédito - levarem clientes a fazer grandes saques".
Como a autoridade monetária está em frequente consonância com o que ocorre no cenário externo, esse pode ser o argumento decisivo para um corte de 50 pontos-base ao invés de 25 - algo que seria mais condizente com o problema da defasagem. Não descartamos, porém, que o manual seja seguido e que a autoridade monetária prefira a parcimônia no ajuste. Veremos mais detalhes ao longo das próximas semanas.