O ativismo do governo é bom ou ruim?

O governo Dilma Rousselff está a todo o tempo jogando na imprensa algum fato novo de política econômica. Primeiro, a presidente se mostrou bastante incomodada com o nível de juros no Brasil e tomou medidas explícitas para redução dos mesmos. Utilizou os bancos públicos para tentar incentivar os bancos privados a reduzirem os spreads bancários. Ela cortou impostos que incidem sobre a produção, baixou tarifas de energia elétrica, desonerou a folha de pagamentos e promete agora atacar os juros do cartão de crédito. Além disso, ela aumentou impostos que incidem sobre produtos importados e prometeu intervir no câmbio toda vez que ele baixar a menos de 2 R$/US$. Tudo isso, afinal, é bom ou ruim?

O ativismo em política econômica é o que os economistas chamam de comportamento discricionário. Isto é, o condutor da política econômica - o policymaker - possui a sua disposição variados instrumentos fiscais, monetários, cambiais e de política para intervir nos mercados. A parte importante disso tudo é a última: intervir no mercado. Isto porque, quando o governo anuncia medidas e pacotes de cunho econômico ele nada mais está fazendo do que intervindo nas regras do jogo, desse imenso jogo chamado economia. E novamente, isso é bom ou ruim?

O organismo econômico é bastante complexo. Ele é a combinação de escolhas de uma infinidade de agentes. Dentro dessa teia todos nós somos a um só tempo produtores de alguma coisa e compradores de tudo em quanto. Nós participamos do jogo econômico vendendo nossa força de trabalho, produzindo bens e serviços e comprando muitos outros bens e  serviços. Toda essa organização social baseada no mercado é regulada por quilos e quilos de papéis e burocracias, mas que no fim esbarra no preço das coisas. O mecanismo de preço é afinal a grande mágica de uma economia de mercado e para responder a pergunta acima devemos começar justamente por ele.

A pergunta é simples: até que ponto o ativismo do governo afeta o preço das coisas?

Afeta de diferentes maneiras e sentidos. Por exemplo, quando o governo anuncia que irá cortar impostos e tarifas que incidem sobre o preço da energia isso reduz o preço de todos os outros bens e serviços que utilizam a energia como insumo. Em outros termos, reduzir o preço da energia pode ser considerado uma boa medida. Já quando o governo anuncia que irá aumentar a tarifa que incide sobre produtos importados, isso encarecerá tais bens, o que por tabela, também encarecerá os bens domésticos que competem no mesmo segmento. Isso tem, portanto, um impacto negativo sobre os preços e pode ser considerada uma medida ruim.

Tudo depende, portanto, do tipo de medida que é anunciada e o seu impacto positivo ou negativo sobre o preço das coisas. Mas não é apenas isso. A literatura de política econômica desenvolvida nos últimos quarenta anos avançou em um ponto que os economstas acham crucial: estabilidade do ambiente de negócios. Ora, como bem vimos, nem sempre o governo atuará de forma positiva: ele comete erros como qualquer outro agente ou instituição econômica. Tal princípio acaba gerando apreensão, tensão e no limite redução dos investimentos no aumento da oferta de bens e serviços. E a consequência disso, novamente, é sobre o preço das coisas: elas ficarão mais caras porque estarão mais escassas.

Em assim sendo, ter um governo que anuncia toda semana novas medidas não é prudente em uma economia de mercado. Ela gera intranquilidade e costuma ser encarada como sinal de falta de rumo e planejamento. O mais sensato seria o governo parar algumas semanas e estipular uma agenda de coisas a serem feitas. A partir disso, ele anunciaria tal plano de intenções e limitaria sua atuação a tais medidas. O mercado acenaria sua conformação ou não e as coisas seriam naturalmente digeridas no Parlamento, como é o normal em uma democracia. Isso traria a tal estabilidade e transparência que sempre é benéfica em qualquer economia regida pelo mecanismo de preços.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Como preparar os dados para um modelo preditivo?

Modelos de previsão macroeconômica podem facilmente alcançar um número elevado de variáveis. Mesmo modelos simplificados, como o Modelo de Pequeno Porte (MPP) do Banco Central, usam cerca de 30 variáveis. Isso impõe um grande desafio ao nosso dia a dia: como fazer a gestão destes dados para uso em modelos, desde a coleta até o tratamento?

Transfer Learning para Previsão de Séries Temporais com o Python

A aprendizagem por transferência (ou transfer learning) é a técnica de reutilizar um modelo previamente treinado em um novo problema. Esse conceito representa um grande avanço para a previsão de variáveis, especialmente aquelas organizadas ao longo do tempo, como séries temporais. Neste post, exploramos como usar transfer learning com Python para trabalhar com esse tipo de dado.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.