Um olhar sobre 2012 - Parte 1

 

Do 4º trimestre de 2005 até o 3º trimestre de 2008 a economia brasileira cresceu anualizada 6% na margem [trimestre contra trimestre imediatamente anterior]. Isso graças, principalmente, à força do Consumo das Famílias - que no mesmo período teve crescimento igual. Já nos últimos quatro trimestres o crescimento na mesma comparação foi de apenas 2,4%, culminando com crescimento nulo no terceiro trimestre de 2011. Todos os componentes da demanda - à exceção, veja você, das exportações - tiveram crescimento negativo frente ao 2º trimestre de 2011. Já no lado da oferta, apenas a agropecuária apresentou resultado positivo: 3,2%.

Tais dados refletem o fato ilustrado no gráfico acima: a economia brasileira está apontando para baixo. Isso, em grande parte, é explicado domesticamente. A elevação dos juros básicos implementada desde abril de 2010, combinada com as medidas macroprudenciais, frearam um dos pilares do crescimento brasileiro dos últimos anos: o consumo sustentado via crédito. O ambiente externo, se afetou, foi pelo canal das expectativas, dado que não houve [até aqui] nem um crash no crédito, nem nas vias do comércio.

O Brasil cresceu a uma média de 3,89% ao ano nos últimos nove anos - supondo crescimento de 3% no ano passado. Um número mais significativo do que o mesmo do período imediatamente anterior - 2,6%. A consequência imediata foi uma queda virtuosa na taxa de desemprego aberto: de 13,1% em 2003 para 5,2% em novembro de 2011. Isso, dentre outras coisas, permitiu que cerca de 30 milhões de pessoas ascendessem à classe média; o que acabou por contribuir para solidificar o processo de crescimento econômico. Nesse aspecto, o consumo das famílias apresentou um vigoroso crescimento desde 2003, com médias trimestrais de 5% - comparada ao mesmo trimestre do ano anterior.

Os juros básicos seguiram sua curva de decadência. Eram 26,5% a.a. no início de 2003 e hoje são 11% a.a. A inflação, sempre uma preocupação nacional, se redimiu dos tempos em que eram acachapantes: estiveram em uma média de 5,8% ao ano no mesmo período - supondo 6,52% em 2011.

Mas o que causou esse crescimento, leitor? Duas coisas: uma causa principal e outra secundária. Na primeira, o cenário externo excepcional, o melhor desde o imediato pós-guerra. Na segunda, um aumento vigoroso da relação crédito/PIB [de cerca de 20% para quase 50%], proporcionado pelas inovações institucionais [garantia fiduciária e crédito consignado, basicamente] e pelo ambiente externo mais receptivo.

Essa melhoria conjuntural, em conjunto com a política de manutenção dos superávits primários, permitiu ao governo brasileiro reduzir a exposição cambial da Dívida Pública Interna, elevar o nível das reservas internacionais e se tornar credor externo líquido, reduzindo sua exposição aos reverses internacionais. Tudo com um custo, é claro – as reservas internacionais são remuneradas via FED Funds, enquanto os passivos [a Dívida Interna] são remunerados basicamente à taxa Selic. A consequência prática dessa estratégia foi a conquista do grau de investimento pelas agências de rating.

A solidez fiscal, entretanto, é assim para inglês ver, leitor. Se reduzimos nossa exposição cambial [que alguns economistas criticam, vejam você!], deterioramos nossa contabilidade fiscal. Usamos de subterfúgios para trazer a valor presente ativos ainda não explorados [isso, falo sobre a mágica de 2010: o caso da Petrobrás], insistimos em manter reservas a um custo muito alto e não atacamos o problema dos gastos correntes.

Em outra perspectiva, para não darmos contornos pessimistas à análise, como exposto acima o desemprego permaneceu em patamares baixos no período recente [apesar dos dados do CAGED demonstrarem um arrefecimento nas contratações na margem] - fechou novembro/11 em 5,2%, o menor nível da série histórica. Isso indica que apesar do nível de atividade ter se deteriorado, os empresários estão apostando em uma recuperação já a partir deste ano, o que os impedem de demitir mão-de-obra. Isso somado ao fato de a economia americana estar demonstrando sinais de retomada pode elevar o nível de atividade nos próximos trimestres. Mas não muito: crescimento de 5% em 2012, como quer o governo, está descartado pelo mercado - a última sondagem do Focus indica PIB rodando na casa dos 3%.

É claro que não se pode deixar de fora do modelo o fato de em 2012 haver eleições municipais, os projetos para a Copa e Olimpíada terem de ser acelerados, o salário mínimo ter sido reajustado em 14% e o poder da política econômica anticíclica - esta última levou um PIB estagnado em 2009 para o maior crescimento desde 1986 em 2010, de 7,5%. Tudo isso, ceteris paribus as condições externas, pode impulsionar um crescimento mais arrojado em 2012, o que acende o sinal de alerta para a inflação.

No acumulado de 12 meses, o IPCA fechou novembro em 6,64%, um pouco acima do limite da meta, mas já demonstrando sinais de arrefecimento. O que preocupa é se os fatores que impulsionam a demanda não reflitirão em um aumento do nível de preços já no segundo semestre deste ano. Isso claro se não houver um efeito deflacionário do lado das commodities. A tendência é que o Banco Central acomode as expectativas acima do centro da meta - 4,5% - o que indica que convergência mesmo nem tão cedo.

Na próxima semana uma análise do Relatório de Inflação, já contando com o IPCA fechado em 2011.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Como criar um Agente de IA coletor de dados

A tecnologia de agentes de IA está democratizando o acesso e a manipulação de dados econômicos complexos, tornando-a acessível mesmo para aqueles sem experiência em programação. Neste post discutimos a criação de agentes de IA para coletar dados econômicos brasileiros usando linguagem natural, como "Qual é a expectativa do IPCA para 2025?".

Como Criar um Agente Analista para Dados da Inflação com LangGraph

Este post mostra como automatizar a análise da inflação brasileira com o uso de agentes inteligentes. Utilizando o LangGraph, integramos dados do IPCA, núcleos de inflação e grupos do índice para criar um sistema capaz de gerar análises econômicas automatizadas com base em consultas em linguagem natural.

Como Criar um Agente para Análise da Atividade Econômica com LangGraph

Este post mostra como automatizar a análise da atividade econômica brasileira com agentes inteligentes. Utilizando o framework LangGraph e dados do IBGE e Banco Central, construímos um sistema capaz de gerar respostas analíticas a partir de perguntas em linguagem natural, unindo automação de consultas SQL e interpretação econômica.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.