O fim do dilmês

Não é fácil, leitor, estar ao vivo, em horário nobre, na maior emissora do país. Para agravar: diante do grande público a concorrer ao mais importante cargo eletivo da federação. Provavelmente por isso, nos aproximamos do fim do dilmês, a língua interpolada pela perturbação do silêncio. São sete atos, diga-se, para que o fim chegue. O primeiro de todos, logo ao abrir da cortina da arena das ilusões, foi o próprio exercício do poder. Dilma e seu dilmês geraram confusão nos agentes, ao aplicarem teorias, faladas e escritas, equivocadas, desnorteando possibilidades, colhendo um estado inchado, com 39 ministérios, escândalos, baixo crescimento, inflação sem controle, obras inacabadas, setor elétrico descapitalizado. Tudo em favor da atrasada e retrógrada maior presença do estado. Que estado, cara pálida?

O segundo ato, um sinal de que as coisas não vão bem, foi a campanha. Ao ver seus preciosos pontos nas pesquisas minguarem, a presidente empreendeu uma das piores campanhas dos últimos tempos. O discurso não do medo, mas do apavoramento. É preciso, afinal, apavorar o povo com um banco central que rouba-lhe a comida, acaso lhe seja dado o direito, veja, de controlar a inflação. É preciso, novamente, incutir no eleitor o apavoramento das privatizações, repetindo a mentira vencedora de 2002, 2006 e 2010. Há ainda outros apavoramentos, como o de que os programas sociais serão descontinuados, que o Brasil será guiado por banqueiros e que a indústria será desmamada das benesses.

O terceiro ato, a reviravolta, quando as pesquisas indicam reação às mentiras. A guinada à esquerda gera aversão ao risco no mercado financeiro. Em seu setembro negro, a bolsa cai 11% e o dólar chega a R$ 2,50. Aqui os barcos são queimados: não é mais possível voltar à racionalidade do superávit primário, da meta de inflação ou do câmbio flutuante. As pernas do tripé foram cortadas e tudo se desemboca para o clímax das urnas.

No setembro negro, Marina cai, Aécio sobe. As inserções cirúrgicas do pt trazem o efeito desejado: o PSDB. Até aqui desacreditado, Aécio chega ao quarto ato, ao debate na Globo, com renovado vigor. Mostra-se seguro, defende o passado do partido, em particular FHC e seu governo. Defende as privatizações, da telefonia, da siderurgia e da embraer. Cita a difícil conjuntura da época, ter de lidar com uma inflação de 916,4% em 1994.  Mostra os desmandos atuais nas estatais, na petrobras e nos correios. Cita os problemas com a inflação, com o setor elétrico, com o aparelhamento do estado.

O dilmês está nas cordas nesse momento. Engasga-se, encolhe-se, tenta balbuciar números desconexos, interpolações estanques, no que se refere, ao não referido. O dilmês respinga um "candidato Aécio", ao que mostra nervosismo de quem não se acostuma aos debates públicos, de quem tem dificuldades para estabelecer um raciocínio linear - talvez por inspirar-se na presidente, o banco central tenha escolhido a tal convergência não linear da inflação.

O dilmês se encontra, às vesperas do quinto ato, o 1º turno, quase morto. Resiste por aparelhos, diante de quatro déficits primários. Será que dá para ser contra as privatizações, afinal, diante dos escândalos sucessivos na petrobras? O que teriam feito com as empresas de telefonia, acaso FHC não tivesse privatizado? Seria, agora, muito mais simples, afinal, implantar o tal controle social da mídia, pensam os representantes do dilmês.

Há ainda três atos: o desse domingo é o quinto. O sexto, a campanha plebiscitária do 2º turno e o sétimo, e último, as urnas finais. Que o dilmês descanse em paz.

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