A inflação segue sendo uma preocupação importante para a conjuntura brasileira, a despeito de um hiato do produto ainda bastante aberto. O IPCA-15 de julho, por exemplo, teve avanço de 0,72%, reagindo, sobretudo, à alta da energia elétrica. Julho é um mês que, sazonalmente, a inflação mensal deveria começar a apresentar algum arrefecimento. A verdade, como temos discutido nesse espaço já há alguns meses, é que a inflação atual está longe de ser fruto de apenas um ou outro choque. Os núcleos e o índice de difusão mostram, de fato, que a inflação atual já é um processo bastante consolidado e que, se houve choques primários no passado, isso se reverberou sobre os demais preços da economia.
Um importante fruto de tensão para os preços ao consumidor, nesse aspecto, como notado pelo Diogo Wolff, no Relatório AM publicado ontem nesse espaço, vem do atacado. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) tem mostrado uma inflação acumulada em 12 meses próxima a 50% nos últimos meses.
Por trás desse aumento consistente do IPA está um avanço forte nos preços das commodities em reais, seja porque houve de fato um aumento de diversas matérias-primas ao longo da pandemia, seja porque o câmbio R$/US$ se depreciou no período.
Tanto o IPA de produtos agrícolas quanto o IPA de produtos industrais apresentaram no período avanços consistentes, fruto em grande parte do aumento das commodities.
A reversão da inflação, por suposto, parece ainda bastante distante do cenário base, ao considerar toda essa pressão vinda do atacado. O hiato do produto aberto, diga-se, dificulta o repasse integral para o varejo, mas é ingênuo imaginar que isso não está ocorrendo.
Sobre isso, em breve, divulgaremos estudo sobre efeito de choques no atacado na inflação ao consumidor, no âmbito do Clube AM.
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Os códigos do exercício estarão disponíveis na plataforma do Clube AM.
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