A "segunda-feira negra", dia em que as bolsas de todo o mundo registraram índices negativos, foi uma reação aos últimos acontecimentos na Europa e, notadamente, nos EUA. Este último simbolizado pelo rebaixamento de nota da dívida de longo prazo pela S&P, de AAA para AA+, mas muito mais pela desconfiança dos investidores em relação ao potencial de recuperação da economia americana nos próximos trimestres. Já na Europa o problema é a desconfiança em relação à capacidade dos governos da Espanha e da Itália de conseguirem rolar suas dívidas nos próximos meses. O spread em relação ao título alemão vem aumentando nas últimas semanas. Para quem não é familiariado com o tema segue uma tentativa de explicação básica sobre o assunto.
Existem ao redor do globo diversos agentes com capital em busca de valorização [daí a expressão 'capital externo']. Esses "proprietários de capital" aplicam o mesmo em diversos mercados: bolsa de valores, mercado de futuros, commodities, renda fixa etc. Tudo tendo com base dois conceitos básicos em finanças: risco e retorno. E, claro, sempre tendo a noção de que quanto maior o retorno, maior o risco do investimento.
Um agente individual, por exemplo, tendo 100 $ pode decidir aplicar esse montante em diversos mercados, dados, basicamente, o seu perfil em relação ao risco e ao retorno. O perfil do investidor com capitais girando ao redor do mundo (de um país para outro, de uma bolsa para outra, de uma bolsa para ouro etc.) é mais agressivo do que aquele que prefere manter seu capital em títulos de renda fixa, por exemplo. O problema é que mesmo esse agente agressivo é avesso ao risco. A aversão a risco é uma medida, portanto, de grau. Como ninguém sabe o que irá acontecer no futuro, todos os investidores são, por definição, avessos ao risco.
Nesse contexto, se aumenta a incerteza em relação aos cenários básicos projetados para o futuro (a economia americana voltar a crescer, a europa fazer o ajuste fiscal etc.), ocorre uma maior aversão ao risco por parte dos investidores. Quando isso ocorre, há uma saída de mercados tidos como mais arriscados [bolsas de valores, por exemplo] para mercados mais seguros [ouro, por exemplo]. Foi justamente isso que aconteceu ontem: diversos agentes assumiram posição de venda nas bolsas ao redor do mundo, migrando para outros mercados, como o de ouro. Daí que se mais pessoas estão vendendo ações do que comprando, a ação desvaloriza, ocorrendo o contrário no "mercado de ouro".
Até ai tudo bem, dirá o leitor mais astuto, mas como ocorre a contaminação? Como vários agentes ao mesmo tempo assumem posição de venda? A teoria econômica explica isso pelo já tradicional "efeito manada". Os agentes buscam sempre não perder e, caso isso seja inevitável, perder o mínimo possível. Daí que se há no horizonte desconfiança, aumento da incerteza, um agente [representativo] começa a emitir vendas de ações, o que é seguido por outros e mais outros, potencializando o efeito negativo. A busca por proteção contra possíveis perdas gera essa fuga da bolsa para outros mercados.
O curioso nesse caso é que, mesmo com o rebaixamento da nota da dívida dos EUA, houve igualmente uma migração para títulos americanos nessa estória toda. Isto porque o mercado [ainda] entende que o título americano é de baixo risco e em momentos de maior aversão, ele se torna um dos refúgios seguros para o capital externo.
E como fica a economia brasileira nessa estória toda? É assunto para um post amanhã...