Expectativas de Inflação seguem em alta

O Boletim Focus divulgado ontem mostra mais um avanço nas expectativas para  o IPCA, tanto para este ano, quanto para 2012. Tal deterioração é um reflexo direto da redução da taxa Selic na última reunião do Copom, além de fatores estruturais da economia brasileira. Houve, é certo, uma perda de credibilidade do Banco Central perante os agentes de mercado quando do anúncio da redução, tendo como base um cenário alternativo de piora no quadro internacional. As dúvidas são se essa deterioração do cenário externo tenha, de fato, o impacto desinflacionário, como espera a autoridade monetária.

A recente desvalorização cambial põe em cheque esse canal desinflacionário. Conforme apontou na ata da reunião, o Copom entendia [naquele momento] que uma eventual desvalorização do Real seria compensada pela queda dos preços de commodities e pela desaceleração da demanda doméstica. Estamos, entretanto, nos aproximando do quarto trimestre e os fatores de pressão continuam a todo o vapor. Sejam os ligados ao setor de serviços [queda do desemprego e aumento da renda], sejam mesmo os ligados ao grupo "alimentação". Este último, por exemplo, foi um dos responsáveis pelo aumento de 0,53% no iPCA-15 de setembro, fazendo com que o índice tenha chegado a 7,33% em doze meses.

Já para o IPCA o caminho é tortuoso, tanto neste quanto no próximo ano. A pressão dos dissídios alcançados por diversas categorias importantes e do aumento do salário mínimo deverão continuar pressionando o índice. Uma quebra de safra neste segundo semestre para produtos importantes do grupo "Alimentação" também já é apontada como risco. O Banco Central se baseia na tese de que o pass through [repasse da desvalorização cambial para os preços] é hoje menor do que há alguns anos. Além disso, com mais de US$ 300 bilhões em reservas internacionais, a autoridade monetária pode vender dólares a qualquer momento, evitando assim um overshooting cambial - algo que seria nefasto para a inflação.

Deixando tudo isso de lado, entretanto, e cá entre nós, essa piora das expectativas mostrada no Focus indica que a credibilidade do Banco Central foi [no mínimo] arranhada. Baixar juros sem passar por um período de estabilidade, dadas todas as pressões inflacionárias comentadas, foi no mínimo perigoso. Ainda mais porque a autoridade monetária se baseou em um cenário alternativo para tal intento. O que pode "salvar" a credibilidade do BACEN é, por suposto, um declínio expressivo do cenário externo, com um crescimento mundial em W, algo não tão desprezível. EUA e Europa enfrentam problemas políticos complexos e a China parece mesmo desacelerar, o que é condizente com as apostas do Banco Central Brasileiro. Só nos resta conferir o que vem pela frente...

O Focus pode ser visto aqui.

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