Demanda, demanda e, surpresa, demanda!

Caso você fosse um estrangeiro que tivesse chegado ao Brasil recentemente ficaria espantado com a nossa capacidade em colocar as coisas para debaixo do tapete - e não, eu não estou falando da caderneta de poupança. Observe a economia brasileira desde sua fundação. Saltam aos olhos nossa capacidade para improvisos! Criativos, diga-se de antemão. Somos mesmo um povo bastante criativo, mesmo em matéria tão preto no branco como é economia - ou, claro, deveria ser. Afinal, sempre há espaço para algum tipo de versão tropical da ciência econômica, ou não?

Não poderia deixar de citar os argumentos estruturalistas, cepalinos, desenvolvimentistas, novo-desenvolvimentistas ou o nome que o leitor achar mais conveniente para justificar nosso apreço por políticas de demanda. Baixar os juros, desvalorizar o câmbio, explorar o trade-off entre inflação e desemprego e assim plotar uma sensação de crescimento econômico. Como pode ser errado, afinal, toda demanda gera sua própria oferta, não é mesmo caro leitor?

Ou não, este escrita se confundiu com a ordem dos fatores e blasfemou a mais cara das citações "críticas" à economia da oferta. Não, leitor, você não leu errado: é isso mesmo. Políticas de cheiro keynesiano - e que não necessariamente tem a ver com Keynes! - às vezes exageram no argumento. Acreditam que caso a demanda seja impulsionada, os empresários contratarão, utilizarão mais insumos e, por fim e ao cabo, aumentarão a produção - a oferta. Desse modo, estímulos à demanda seriam fundamentais para promover o crescimento econômico.

O que está errado nisso? O desprezo pelas causas do aumento da oferta, leitor amigo. O crescimento econômico pode ocorrer, como de fato ocorreu em vários momentos da História Econômica Brasileira, apenas com incentivos à demanda. Mas ele não gera desenvolvimento se as restrições do lado da oferta não forem atacadas, quais sejam: uma mão de obra com elevado índice de analfabetismo funcional, entraves à incorporação de inovação, insegurança jurídica, baixa poupança etc.

A nova política econômica brasileira é tão somente uma expressão desse fato. A demanda parece responder a todas as preces do comandante em chefe. Daí que baixar os juros, desvalorizar o câmbio e explorar a Curva de Phillips não passa de um meio seguro para se chegar aos fins tão almejados por todos. Esqueceram, apenas, de combinar com a oferta e, claro, com o futuro. Afinal, em economia não existe almoço grátis...

 

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