Virando o jogo contra a "patrulha"

Definição de economia: aquilo que todo mundo sabe. O preço sobe porque mais pessoas procuram um bem, o preço desce porque menos pessoas procuram ou porque mais pessoas produzem esse bem. Oferta e demanda: é o resumo da economia. E dai para falar de privatizações, inflação, juros altos, crescimento econômico, apreciação da taxa de câmbio dentre tantos outros temas econômicos é um pulo. Há um cansaço hermético pelo qual todo economista ou aspirante a tal fardo passa: o de convencer as outras pessoas que sua profissão perpassa um conhecimento além do bom senso.

Médicos, engenheiros e advogados, para ficar nas carreiras mais tradicionais, não têm lá muita dificuldade para se diferenciarem da plebe. Sortudos quem são, logo soltam alguns termos especializados e pronto: diferenciaram-se de sua platéia, lá se vai o questionamento. E assim o festejo continua. O advogado pode dar sequência a sua trama de conquista para cima da loira visivelmente mais alegre, o engenheiro pode brincar com os filhos e o médico, esse, já é chamado de doutor assim que entra no recinto. Já o economista, esse pobre maldito, habita o pior dos infernos!

Em qualquer aparição pública, seja com duas ou trinta pessoas, lá está ele tendo que dar explicações sobre alguns dos temas do noticiário. Mas seria simples se apenas isso fosse: lá está ele tendo de ouvir o que o leitor do jornal tem a dizer sobre o mesmo tema. Afinal são todos entendidos de economia.

Dai, talvez você pobre "companheiro" de inferno astral, tenha a infeliz iniciativa de "entrar no jogo". Acalorados debates surgem e lá está você tendo que ouvir citações de jornalistas ou mesmo de economistas-defuntos, cujas idéias já estão mais ultrapassadas do que o papo da cegonha. Mas vá lá: com o tempo você aprendeu que é preciso ouvir o que todo mundo tem a dizer sobre economia. Você diz a si mesmo: é o preço a se pagar!

Mas talvez você não seja assim, seja do tipo encrenqueiro, pau-para-toda-obra, que bate de frente e não tem medo de desagradar o sujeito que acabou de conhecer. É claro que você não tem muitos amigos - mas, como ensina a boa teoria econômica, não existe almoço sem custo. E lá está você tentando explicar porque a jornalista em questão disse algo idiota ou porque o jornalista não explicou o conceito direito. No processo, porém, você comete erros didáticos, porque afinal não foi treinado para explicar algo a quem nunca  foi iniciado na disciplina - coisa que os jornalistas foram. E assim, tão logo a boa teoria econômica é por você proferida, lá vem o sujeito (ou a sujeita) menosprezar o seu "economês".

"Porque economista que defende aumento de juros é um absurdo!", foi um comentário que recebi ao escrever um artigo para um jornal no Rio. E prossegue: "esse povo estuda, estuda, para defender aumento de juros! É brincadeira!". Entendi do episódio que se continuo "defendendo" o aumento de juros é porque não estudei o suficiente. E me pego rindo às vezes de mim mesmo por ainda cair na besteira de discutir. Você nunca passou por isso?

Como bem retrata Gustavo Franco, a pior "patrulha" não é mais a ideológica, mas sim a doméstica: aquela que não vê no saber econômico nada de especial. Aquela que entende o economista como um exibido, que só aparenta saber algo e o disfarça por meio do seu prolífico "economês". E as nossas festinhas de aniversário continuam mais chatas do que deveriam ser.

Mas qual seria o método correto para lidar com essa "patrulha" à Orwell? O que tenho testado ultimamente é o uso mais cruel e letal da teoria econômica: a demostração da total ignorância para assuntos econômicos do seu interlocutor. É como o tal "dar um tiro para matar um mosquito". O uso porque simplesmente andava de mau humor com a patrulha nos últimos meses: afinal era eleição e todo o mundo a minha volta (hoje não mais, thanks God!) parecia ter um conselho certeiro para o próximo governo. E assim foi que a cada "debate" que eu inocentemente era inserido lá estavam os tiros sendo dados.

Era, obviamente, acusado de usar o tal "economês" para não iniciados e logo se acuavam. Intimamente, entretanto, me perguntava: "Ora, não querem discutir economia, saber teoria econômica não deveria ser pré-requisito?". Afinal, nunca vi ninguém discutindo com um advogado o artigo 5º sem ter lido a Constituição. E assim, acusado do "crime do uso de economês excessivo", meus algozes se afastam e eu posso tranquilamente me voltar para as loiras de plantão. O plano deu certo, afinal reza o bom senso que é melhor não discutir algo com alguém que não estudou aquele algo.

O interessante é reencontrar a patrulha após a postura dura de antes. A matéria lida na manhã anterior já não é mais o tema da conversa. Está posta! Voltam-se as preocupações para conjunturas mais urgentes: como a que concebe o campeonato brasileiro ou a circulação de mulheres no recinto. E assim é que, tendo meu conhecimento respeitado, pude voltar a usufruir do inenarrável prazer de ser apenas um pobre profissional como qualquer outro. Thanks God for that!

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