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Como hoje é dia de COPOM, resolvi imitar o meu colega Renato Lerípio - que, aliás, vem fazendo um belo trabalho de divulgação do R no seu blog - e falar um pouco sobre a diferença entre a taxa de juros básica da economia, a taxa Selic, e os juros que realmente importam, aqueles que a pessoa física normal paga quando toma um empréstimo. O gráfico abaixo ilustra que, ainda que haja uma correlação positiva entre elas, os seus níveis são bem diferentes. Enquanto a taxa Selic (efetiva) encontra-se em 6,4% a.a., o juro pessoa física está em inacreditáveis 52,03% a.a. na modalidade livre, aquela que depende da oferta e demanda do mercado. E a pergunta que fica, naturalmente, é por quê?
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Como eu sou um grande entusiasta do tema, já falei sobre ele várias vezes aqui nesse espaço. Nessas oportunidades, sempre gosto de dividir o problema em duas partes. Primeiro, é preciso dizer que temos um juro real – selic menos a inflação – que equilibra as diversas forças do organismo econômico fora do lugar – para uma comparação com outros países, clique aqui. Três coisas equivocadas na economia brasileira atuam para que isso ocorra: (i) uma taxa de poupança muito baixa; (ii) uma dívida pública muito alta; (iii) existência de muito crédito direcionado. Expliquei em detalhes aqui cada um desses problemas. Vamos focar, portanto, na segunda parte do problema: por que a diferença entre esse juro real, que se aproxima da taxa de captação dos bancos, e o juro para pessoa física é tão alta?
No jargão dos economistas, o nome dessa diferença se chama spread bancário. O spread bancário é alto no país, basicamente, porque é difícil reaver um empréstimo, dada a lentidão da justiça, o que acaba sendo repassado para o preço. Ademais, os depósitos compulsórios exigidos pelo Banco Central estão entre os mais elevados do mundo e a carga tributária incidente também é bastante elevada. Por fim, o setor bancário é muito concentrado, com os principais bancos detendo grande parte do mercado. Tudo isso concorre para manter o spread elevado, o que implica em taxas de juros mais altas para consumidores e empresários.
O Renato, aliás, fez um exercício interessante no blog dele que busca justamente estimar um modelo que explica a trajetória da variação do juro pessoa física. Os resultados do exercício sugerem que a inadimplência tem um papel decisivo na explicação.
Em outras palavras, leitor, reduzir o juro para a pessoa física implica em tocar uma agenda microeconômica bastante complicada. De todos os fatores que explicam o spread alto, me parece que o ponto mais difícil de ser enfrentado é justamente o da inadimplência. Isto é, como dar celeridade a processos de recuperação, o que implica em reduzir provisões de bancos, impactando em juros menores para o tomador de crédito? Não parece ser fácil, não é mesmo?
Aumentar a concorrência e reduzir tributos/compulsórios, me parece, a parte fácil (em termos relativos, obviamente) do problema. Enfrentar a lentidão da justiça brasileira é que são elas... Ou seja, leitor, acho que ainda teremos de conviver com juros altos por um bom tempo, infelizmente... 🙁
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