Tutorial para abrir um grupo de conjuntura na sua faculdade

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Frequentemente, recebo mensagens de alunos de graduação em economia frustrados com sua formação, interessados em um olhar mais prático e mais quantitativo para as disciplinas que cursam. O tema não é, digamos, novo nesse espaço. Já escrevi um sem número de posts sobre a falta de prática nas faculdades de economia. Por isso, hoje, não vou me repetir nessa discussão. Pelo contrário, vou propor aqui uma forma de começar a por a mão na massa. Estou convencido que saber lidar com dados é a melhor forma de aprender economia de verdade - a gente passa a não dar bola para teorias que simplesmente não funcionam e se concentra naquelas que fazem sentido. Isso dito, a melhor forma na minha opinião de colocar a mão na massa é fazer parte de um grupo de conjuntura. É como um hospital universitário para uma faculdade de medicina: toda faculdade de economia séria deveria ter um. E se você quiser saber como abrir um na sua, leia o post até o fim.

Reúna alguns amigos e consiga uma sala na faculdade

Você vai precisar, naturalmente, chamar alguns amigos igualmente frustrados com a falta de prática e interessados em mudar essa realidade. Não existe um número ideal, mas minha experiência me diz que não devem ser muitos. Tente algo como 7 a 10 pessoas. Uma vez que você consiga atingir esse número, vá na secretaria da sua faculdade e reserve uma sala de aula uma vez por semana. A ideia aqui é que vocês consigam se reunir uma vez por semana e que essas reuniões durem em média três horas.

Em resumo, você tem três primeiros desafios: encontrar esses amigos frustrados, arranjar uma sala e coordenar com eles um horário na semana em que todos possam estar reunidos.

A primeira reunião

Se você conseguir passar por esses desafios iniciais, a hora é de marcar a primeira reunião. Nela, você, sim, você que mais se interessou pelo tema e será o coordenador do grupo, terá a responsabilidade de apresentar o objetivo do grupo e a divisão de tarefas. Que objetivo? Que tarefas?

O objetivo de um grupo de conjuntura é o de, óbvio, acompanhar a conjuntura econômica doméstica e internacional. Para que isso seja possível, é preciso monitorar uma cesta de variáveis macroeconômicas, divididas em algumas grandes áreas, a saber: nível de atividade, inflação, mercado de trabalho, economia internacional, política monetária, política fiscal e mercado de crédito.

Você deverá, então, dividir os seus amigos nessas grandes áreas, além de mais uma, chamada de modelagem e previsão, que detalharei mais à frente. A ideia, por suposto, é que a pessoa que esteja na área de inflação, por exemplo, ficará responsável por acompanhar os índices da área, como a inflação medida pelo IPCA, os IGPs, os núcleos de inflação, as expectativas, etc. Produzirá relatórios e apresentações sobre esses índices tanto para consumo interno da equipe quanto para os demais alunos da faculdade.

Unindo teoria e prática

Esse ponto é chave. Certamente, não dá para ficar discutindo conjuntura econômica sem ter conhecimento da teoria econômica, não é mesmo? Pode ser importante, portanto, que nas primeiras reuniões - algo como 4 a 5 reuniões - vocês dediquem algumas horas a alinhar o conhecimento teórico dos membros, fazendo uso de algum livro de macroeconomia, como o Sachs e Larrain ou mesmo o Mankiw. O ritmo dessas horas pode ser algo como uma monitoria de macroeconomia.

Importante: um pré-requisito mínimo para que todos os membros possam acompanhar de forma razoável as discussões do grupo são dois semestres de macroeconomia.

Um outro ponto, e nisso nós da Análise Macro podemos lhe ajudar, é que talvez seja necessário algum alinhamento para saber mexer com dados. Como lidar com dados de inflação, política fiscal, política monetária, etc, fazendo uso de um pacote estatístico como o R é o que procuramos suprir com o nosso Curso de Análise de Conjuntura usando o R. Como construir uma média móvel, calcular variações mensais, trimestrais, interanuais, acumuladas em 12 meses, dessazonalizar uma série, etc. Coisas simples, mas que a maioria das faculdades de economia não ensina, nós ensinamos nesse curso.

Alinhada a teoria macro e a parte prática - saber lidar com dados - vocês já podem avançar...

Construindo uma base de dados

Note que uma parte importante do trabalho é monitorar os dados. Isso deve ser feito de forma organizada. E aqui existem duas formas de fazer isso. A primeira envolve utilizar alguma plataforma de compartilhamento de arquivos como o Dropbox. Isto é, todos os membros do grupo devem ter uma conta na plataforma, de forma que podem visualizar todos os arquivos de todas as áreas. Os membros de cada área, desse modo, ficam responsáveis por atualizar as variáveis macroeconômicas respectivas, organizadas em planilhas do Excel. Em outras palavras, vocês devem ficar atentos aos calendários de divulgação dessas variáveis, nos sites do IBGE, FGV, Banco Central, etc, e atualizar as planilhas Excel toda vez que um dado sair.

Uma outra forma, bem mais interessante, de fazer isso é utilizar o R. Já existem pacotes, como o BETS, que permitem baixar séries diretamente para o R. É, diga-se, uma forma para lá de interessante de unir teoria e prática. Imagine uma reunião de conjuntura em que o objetivo seja falar da inflação medida pelo IPCA que acabou de sair? Bom, você entra então no RStudio, carrega o BETS e plota um gráfico como esse daí abaixo.

Com o gráfico projetado, abre-se uma discussão dos motivos pelos quais a inflação acumulada em 12 meses está caindo. Legal, não? Terminada a discussão, você pode exportar essa série do R para um arquivo excel, alocando o mesmo naquela pasta do Dropbox.

À medida que essa base de dados for sendo construída, a propósito, uma primeira parte das reuniões semanais, algo como 30 minutos, deve ser dedicada à discussão dos indicadores que saíram entre uma reunião e outra. Isso vai ajudar a manter todo mundo atualizado sobre todos os indicadores, o que abrirá a cabeça dos membros do grupo para o que está acontecendo com a economia doméstica e internacional.

As reuniões seguintes

Cumpridos os requisitos acima, vocês podem agora se dedicar a atualizar a base de dados e trabalhar. A primeira parte das reuniões, como dito acima, fica com a atualização dos indicadores. A segunda parte, por suposto, pode ser composta por discussões específicas. Por exemplo, o tema mais quente da semana pode ser a mudança na meta de inflação feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O pessoal da área de política monetária pode, então, preparar uma apresentação sobre a meta de inflação ao redor do mundo, entre países que adotam o regime de inflation targeting. Esse tipo de apresentação pode gerar uma discussão bastante prática e enriquecedora para todos os membros. Vocês não fazem ideia o ganho para a formação de um economista uma discussão desse tipo.

Uma pergunta frequente aqui é: como ter ideias de apresentações? Bom, uma forma de ter ideia é ler bastante. Dessa forma, entre uma reunião e outra, o "dever de casa" dos membros da equipe será ler um jornal diário como o Valor Econômico (sugiro que os membros façam uma vaquinha e assinem esse jornal), ler boletins de conjuntura como o Boletim Macro do IBRE/FGV e o Relatório de Inflação do Banco Central.

Ao ter contato com esse tipo de leitura, vocês rapidamente vão ter ideias de apresentação, replicação de gráficos e discussões para lá de interessante.

O céu é mesmo o limite

Eu não estou aqui para enganar ninguém. Dá trabalho criar um grupo de conjuntura. É preciso motivar a tropa a cada reunião. Manter todo mundo animado, mesmo com as distrações do dia a dia, com as provas no meio do caminho, os estágios e por aí vai. Vai ser complicado, mas criar um grupo desses compensa e muito.

Caso vocês consigam chegar ao nível de manter reuniões semanais por ao menos seis meses, já verão uma grande evolução por parte do grupo. Principalmente em relação ao que motivou chegar até esse parágrafo: unir teoria à prática.

O passo seguinte é criar uma área de modelagem e previsão. Para isso, vocês vão precisar de ao menos dois cursos de econometria, um de introdução e outro de séries temporais. Temos cursos aqui na Análise Macro que podem lhe ajudar, bem como disponibilizamos um Clube cheio de exemplos legais que podem ser reproduzidos. Vocês podem começar com modelos univariados simples e evoluir para modelos mais "sofisticados". O céu é literalmente o limite.

E o professor-orientador?

Reparem que escrevi esse tutorial partindo do pressuposto que os cursos da Análise Macro lhe darão suporte para prosseguir na construção e manutenção de um grupo de conjuntura. E a verdade é que se vocês forem disciplinados o suficiente, isso de fato pode acontecer sem a figura do "professor-orientador". E por que isso? Porque eu sei que é difícil encontrar um professor que tenha tempo e tesão para coordenar um grupo desses. Pode ser que em uma faculdade haja esse cara, mas pode ser que não haja. Desse modo, escrevi todo o tutorial pensando em um grupo que nasce pelas mãos de alunos interessados em romper a inércia por suas próprias mãos.

Mas se a sua faculdade tem esse professor, ótimo! Siga a trilha acima pelas mãos dele, vai ser bem mais fácil chegar àquela apresentação de conjuntura para toda a faculdade! Caso não haja esse professor, tudo bem, pode demorar um pouco mais, mas com os nosso cursos e dicas, vocês chegam lá do mesmo jeito.

E agora?

Agora é colocar a mão na massa. Comece pelo começo: pelas pessoas que vão trabalhar com você. Se dedique a encontrar estudantes sérios, que gostam mesmo de economia, que querem mesmo ser economistas. Pode ser estranho falar isso, mas tem muita gente fazendo economia que nunca vai se tornar economista. Vai trabalhar em alguma grande empresa fazendo o que qualquer outro profissional com ensino superior poderia muito bem fazer. Ser economista, por outro lado, exige saber usar a teoria econômica para entender a realidade que lhe cerca. E isso, hoje em dia, passa por saber coletar, tratar, analisar e apresentar dados de forma eficiente.

Encontrando, portanto, esse pessoal e seguindo as dicas acima, vocês vão longe! Torço para que dê certo. Nas próximas semanas, volto a dar outras dicas! 🙂

 

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