
A tabela acima resume o efeito de reajustes em três preços: energia elétrica, ônibus urbano e gasolina. Quatro são os reajustes lineares: 5%, 10%, 15% e 20%. O cenário "múltiplo" verifica o impacto de reajustes de 25% em energia elétrica e 10% em ônibus urbano e gasolina. Os reajustes possuem impacto entre 0,46 e 1,82 pontos percentuais nos reajustes lineares. Já o cenário múltiplo tem impacto de 1,31 pontos percentuais.
Considerada a projeção do Banco Central para o IPCA no 1º trimestre de 2015, de 6%, a inflação pode se aproximar de 8%, apenas com os efeitos primários desses aumentos. Se considerarmos efeitos secundários dessas elevações, isto é, o impacto dos reajustes desses preços em outros bens e serviços - dado que transporte, energia elétrica e gasolina são insumos para a maior parte das cadeias produtivas - a inflação pode se situar facilmente entre 8% e 8,5%.
A necessidade desses reajustes é inexorável porque a manutenção de um preço abaixo daquele que seria de equilíbrio entre oferta e demanda gera custos não desprezíveis para o Tesouro. Afinal, a diferença entre o preço vigente e o preço de equilíbrio é subsidiado pelo governo e/ou mantido às custas de mecanismos "criativos", como o recente empréstimo que será tomado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no valor de R$ 12 bilhões. O acúmulo desses "esqueletos" uma hora tem de ser revelado e pago, bem como o preço de equilíbrio restaurado, para que sinalize corretamente o que acontece com os respectivos mercados. O adiamento dessa ação eleva ainda mais a "inflação corretiva" necessária para recuperar o equilíbrio entre oferta e demanda. Em outras palavras, adiar o processo incrementa ainda mais os números do parágrafo anterior.
Vale lembrar que a necessidade de uma "inflação corretiva" é o sintoma básico do congelamento de preços, largamente praticado no Brasil no âmbito do Conselho Interministerial de Preços (CIP), entre 1968 e 1991. Ou seja, o que o atual governo pratica é velho, não tem o menor respaldo pela teoria monetária moderna. É fruto apenas de uma interpretação equivocada do fenômeno inflacionário.
Em assim sendo, a inflação que nos espera depois do pleito eleitoral é ainda mais elevada do que a atual, de 6,15%. Dificilmente o governo poderá compatibilizar maior esforço fiscal (maior superávit primário) com a manutenção da política de controle desses preços. Isto porque, manter o represamento de preços gera custos significativos para o Tesouro. Adiar ainda mais a correção, portanto, é uma opção que nos levará de forma segura para o mesmo patamar que vive a Argentina hoje.