Sempre que o Banco Central inicia um processo de elevação da taxa de juros, há uma gritaria em torno dos efeitos perversos que isso teria sobre o nível de atividade e consequentemente sobre a taxa de desemprego. Geralmente, dentro desse tipo de argumentação, o "analista" comete o equívoco de dizer que, como as expectativas do mercado são formadas basicamente por instituições financeiras, eles superestimariam a expectativa de inflação, visando pressionar o Banco Central a praticar juros básicos mais elevados. Isso, claro, geraria mais lucro para as instituições financeiras envolvidas na pesquisa. Ou seja, haveria um problema de risco moral envolvido no processo de coleta de informações, que seria resolvido se agentes do "lado real" da economia fossem incluídos na pesquisa da autoridade monetária.
O argumento, à primeira vista, parece realmente "fazer sentido" e seduz muita gente boa por ai. Mas o que os dados tem a dizer sobre isso? Infelizmente, leitor, os dados não confirmam a tese. Tomando duas séries, uma da expectativa do IPCA no mês j para ano t e a inflação que efetivamente ocorreu no ano t (para 2013, utilizou-se a inflação efetiva acumulada em 12 meses no mês j) e fazendo a diferença da primeira em relação a segunda, o que se percebe é que de jan/2000 a maio/2013, ou seja, nos 161 meses, em 67,7% dos casos o que se viu é que o mercado subestimou a inflação do período. Em outros termos, o que se vê é que o mercado projeta na maior parte dos casos uma inflação menor do que ela realmente é no final do ano.
Isso, a meu ver, acaba com a "teoria da conspiração" de alguns críticos. Às vezes, leitor, os dados confessam...