O PIB de 2011 veio como esperado: 2,7%, na comparação com 2010. Na margem - contra o terceiro trimestre - o crescimento foi de 0,3% - o que anualizado dá um crescimento pífio de 1,4%. O destaque negativo, que aparece em dez em cada dez periódicos econômicos, é o desempenho da Indústria: pelo terceiro trimestre consecutivo registrou crescimento negativo, de -0,5%. Continuando no lado da oferta, os serviços registraram ligeiro aumento na margem, de 0,6% e a agropecuária mostrou vigor ao registrar 8,4% contra o quarto trimestre de 2010.
Já no lado da demanda, destaque para dois componentes. O Consumo das Famílias registrou crescimento anualizado na margem de 4,5%, enquanto as Importações registraram nessa mesma comparação vultuosos 10,8%, indicando que a dobradinha renda-crédito ainda tem muito a oferecer ao crescimento brasileiro. A Formação Bruta cresceu na margem tímidos 0,2%, enquanto as Exportações avançaram 1,9% nessa mesma comparação.Em termos anuais, a relação Investimento/PIB ficou em 19,3%
Desses dados podemos auferir ao menos dois tipos de previsões. Primeiro, como pode ser visto no gráfico abaixo, parece que na margem a economia brasileira ensaia algum tipo de recuperação, principalmente os componentes da demanda. Em segundo lugar, parece que os problemas de competitividade da Indústria estão mais evidentes. A PIM-PF veio decepcionante, o que mostra algum tipo de problema mais estrutural - a valorização do câmbio apenas deixa isso mais claro.
Isso fica bastante evidente quando se verificam as contribuições para o crescimento do PIB - elaborado pelo IPEA. No lado da demanda, o Consumo (Famílias + Governo) contribui com 2,25%; já no lado da oferta, a Indústria contribuiu negativamente com -0,32% - os serviços contribuiram com 1,36%. Tudo isso para um crescimento de 1,4% contra o quarto trimestre de 2010. Ou seja, a baixa taxa de desemprego, apoiando crescimento da massa salarial, e a continuação do crescimento do crédito reforçam o Consumo, porém os problemas de competitividade reforçam o deslize da Indústria. Ceteris paribus, o crescimento brasileiro desse jeito é um mau negócio: ele desaguará em um vultuoso déficit de transações correntes - o que para este ano está estimado em US$ 65 bilhões pelo Banco Central.
Atento a isso, o governo brasileiro aponta uma série de "medidas salvadoras" para a Indústria brasileira. O alvo preferido é claro o câmbio. Tentar conter a valorização do câmbio, permitindo uma melhora conjuntural para a Indústria, parece ser o principal mecanismo a ser utilizado pelo governo, além de medidas de desoneração da folha de pagamentos - essa um bom sinal, ao menos. Além do front fiscal, o Banco Central está em franco processo de redução da taxa básica, prometendo levá-la para as mínimas históricas - algo perto de 9% a.a. Isso reduz o diferencial de juros, o que em tese também ajuda a conter a valorização. Problemas nisso? Desvalorizar o câmbio nesse momento é algo severamente difícil [dada a avalanche de liquidez mundial] e sempre é preciso lembrar que tem um limite: o repasse para os preços.
Falando em inflação, ela tem recuado no acumulado de 12 meses. A pressão do grupo Alimentos e Bebidas tem sido menor, porém a Inflação de Serviços continua sendo um problema, demonstrando o vigor da dobradinha renda-crédito.
Em síntese, a economia brasileira deve apontar o bico para cima a partir do segundo semestre desse ano. Mas nada que se possa comemorar muito. Um crescimento de 3,5% já seria bastante significativo. E se isso acontecer, a convergência para o centro da meta de inflação contém riscos, o que pode levar o Banco Central a aumentar juros já a partir do próximo ano - essa hipótese está contida na Curva de Juros, como também discutido no post anterior.