Ata da 177ª reunião do Copom mostra Banco Central conservador.

ata da 177ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada agora a pouco, mostra um Banco Central preocupado com a inflação. Em particular, com a continuação do descasamento entre oferta e demanda e mais recentemente com a transmissão dos efeitos da desvalorização cambial para os preços domésticos. Pondera nesse sentido que o ciclo de aperto monetário não só deve continuar, como será particularmente vigilante em relação aos desdobramentos desse quadro. Com isto, o cenário III do Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica (GECE/UFF), ainda que necessite de maiores reflexões, pode ser considerado a aposta mais provável para a taxa básica de juros no final de 2013, isto é, Selic em 10% a.a.

A preocupação com os desdobramentos da desvalorização do câmbio marca o tom da ata. Isso pode ser visto, por exemplo, logo no 1º parágrafo, quando o Comitê ressalta:  "Em síntese, a inflação de monitorados recua, ao mesmo tempo em que a de não comercializáveis segue em níveis elevados, e a de comercializáveis, em elevação"Acentua, no parágrafo 11, que a volatilidade percebida nos mercados globais é função da esperada mudança na condução da política monetária norte-americana. Ele voltará ao tema no parágrafo 19, tecendo breve nota sobre essa volatilidade e tendência a apreciação do dólar (e não simplesmente desvalorização do real, isso deve ficar claro).

Como mostra a boa teoria, o Banco Central condiciona o repasse dessa desvalorização cambial para os preços domésticos ao comportamento da demanda. Isso é sublinhado ainda no parágrafo terceiro: "O Copom avalia que os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a inflação para os consumidores dependerão das condições atuais e prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação". Como sinaliza o próprio banco no parágrafo 20, a demanda tenderá a mostrar crescimento - mesmo que em nível menor do que nos trimestres passados - o que contribui para possibilitar esse repasse.

Nesse contexto, tendo o tema da desvalorização cambial como pano de fundo, o parágrafo 24 do documento enseja a "cereja no bolo", quando diz o que sublinhamos a seguir:

"O Copom avalia que a depreciação e a volatilidade da taxa de câmbio verificadas nos últimos trimestres ensejam uma natural e esperada correção de preços relativos. Para o Comitê, esses movimentos nos mercados domésticos de divisas, em certa medida, refletem perspectivas de transição dos mercados financeiros internacionais na direção da normalidade, entre outras dimensões, em termos de liquidez e de taxas de juros. Importa destacar ainda que, para o Comitê, a citada depreciação cambial constitui fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos. No entanto, os efeitos secundários dela decorrentes, e que tenderiam a se materializar em prazos mais longos, podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária".

Especificamente em relação à desvalorização cambial, portanto, o Banco se compromete a limitar seus efeitos sobre os preços domésticos. Isto somado ao descarrilhamento das expectativas - notado em alguns pontos do documento - e a continuação do descompasso entre oferta e demanda corrobora com um cenário em que a taxa básica de juros sofrerá aumentos de 50 pontos-base nas reuniões de outubro (8 e 9) e novembro (26 e 27). Maiores detalhamentos desse cenário serão divulgados tão logo a ata seja incorporada às reflexões do GECE/UFF.

(*) Originalmente publicado em www.conjuntura.uff.br

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