Dentro do Regime de Metas de Inflação, implantado no Brasil desde 1999, o objetivo principal da autoridade monetária - o Banco Central - é fazer convergir as expectativas de inflação à uma meta pré-definida. Neste modelo entende-se que as expectativas de preços dos agentes econômicos são o principal canal de transmissão da política monetária. Em outros termos, quando o Banco Central aumenta ou diminiu a taxa de juros ele espera balizar as próprias expectativas do mercado quanto ao futuro, conduzindo a própria variável econômica a um resultado previamente definido.
Assim, por exemplo, no atual momento que estamos vivendo, o Banco Central está aumentando os juros, com o intuito de sinalizar para o mercado que pretende alcançar a meta de inflação de 4,5% ao ano - ou, claro, chegar o mais próximo possível dela. Nesse sentido ele propõe que os agentes modifiquem para baixo suas expectativas quanto à inflação, fazendo com que a própria taxa de inflação se modifique no futuro para baixo. Afinal, se você espera que uma coisa vai acontecer, todo o mercado acha a mesma coisa, ela acaba acontecendo - as expectativas se auto-realizam.
Existem, claro, certos pré-requisitos para que isso ocorra. Um dos mais importantes é que o Banco Central goze de credibilidade junto ao público. Isto porque, de nada adianta ele tentar influenciar (ou balizar) as expectativas dos agentes econômicos se ninguém no mercado acredita no que ele está fazendo. Isso é, inclusive, um dos motivos pelos quais o Banco Central brasileiro foi nos últimos anos extremamente conservador quanto à condução da política monetária. Conservador no sentido de manter uma taxa de juros maior por um período mais longo do que aquele que muitos agentes achariam válido.
Tal comportamento foi (e continua sendo) necessário dado que o Banco Central brasileiro não é formalmente independente (o que é um outro pré-requisito para o regime de metas de inflação). Em não sendo, ele tem sempre à sua sombra a possibilidade de ingerência política sobre suas decisões de política monetária. O mercado sabe disso e acaba exigindo da autoridade monetária uma postura mais conservadora - qualquer outro comportamento seria encarado como intervenção do Palácio do Planalto.
Nesse contexto e se o Banco Central goza de certa credibilidade junto ao mercado, um outro pré-requisito dentro do modelo de metas de inflação é que o próprio Banco Central gere pesquisa econômica sobre esse canal de transmissão tão importante que são as expectativas dos agentes em relação (notadamente, mas não apenas) aos preços. O BCB tem evoluído muito nesse aspecto desde a implantação do regime de metas e uma das formas de coleta de informações de expectativas junto ao mercado é o Boletim Focus (que é bastante criticado, diga-se, dada a abrangência das fontes pesquisadas). Nele são coletadas informações expectacionais dos agentes quanto a preços (diferentes índices), juros, nível de atividade, taxa de câmbio, dívida pública e setor externo. A idéia implícita - e um outro pré-requisito - é que a condução da política monetária deve ser o mais transparente possível: a autoridade monetária deve construir um arcabouço de informações visando melhorar a sua própria comunicação com o mercado.
As críticas ao boletim Focus estão concentradas na sua abrangência: a maior parte das instituições consultadas pertence ao mercado financeiro. Ora, se você está se baseando no que uma parte do mercado está dizendo - e essa parte tem grande interesse em manter juros mais altos - é uma consulta viesada. É claro que tais críticas devem ser analisadas com cuidado e que, diga-se, o próprio Banco Central não se concentra apenas no Focus para tomada de decisão sobre política monetária - outros fatores entram na mesma.
Por fim, eu sou um grande interessado em política monetária e escreverei muito sobre isso neste espaço. Além disso, claro, trarei análises sobre o próprio Focus e sobre as demais informações divulgadas pelo BCB - principalmente o Relatório Trimestral. Para assinar o Focus clique aqui.