Não muito, para dizer a verdade. Se alguém esperava uma justificativa contundente do corte na taxa Selic, ficou decepcionado ao ler as páginas da ata. O que o COPOM viu foi basicamente um cenário externo com menor crescimento nos próximos anos e países de mãos atadas tanto no campo fiscal quanto no monetário. Isso, segundo a autoridade monetária, teria um impacto positivo sob a processo inflacionário interno. Daí que cinco membros do Cômite optaram por reduzir agora a Selic.
Some-se à deterioração do ambiente externo, o comprometimento do governo com o superávit primário cheio tanto neste quanto nos próximos dois anos. No balanço de riscos para a inflação, de um lado temos um mercado de trabalho ainda bastante virtuoso e de outro o crédito com expansão significativa. Contrário a essas forças "inflacionistas", estariam o lado externo, os movimentos de ajuste fiscal e as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no fim de 2010. Para o BACEN, estes tendem a ser mais fortes do que aqueles, forjando assim um balanço positivo para o controle de preços.
Chama atenção o parágrafo 18 e a especificação de um cenário alternativo compilado por um "modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico de médio porte". As previsões desse cenário indicam que o impacto sobre a economia brasileira da deterioração externa seria de 1/4 do impacto observado na crise de 2008/2009. Nas palavras do Cômite:
"(...) supõe-se que a atual deterioração do cenário internacional seja mais persistente do que a verificada em 2008/2009, porém menos aguda, sem observância de eventos extremos. Nesse cenário alternativo, a atividade econômica doméstica desacelera e, apesar de ocorrer depreciação da taxa de câmbio e de haver redução da taxa básica de juros, entre outros, a taxa de inflação se posiciona em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o supracitado efeito da crise internacional".
Além dessa "deterioração externa", nos documentos anteriores, o Banco Central já havia sinalizado que esperava uma redução mais acentuada dos preços a partir do 4º trimestre, dadas todas as medidas implementadas até aqui. A grande questão é se de fato esse cenário mais benigno irá se confirmar, haja visto que os serviços têm se mostrado bastante resistentes a essas medidas. Para que a inflação em 2011 termine abaixo do limite superior da meta [6,5%], o índice mensal precisa ficar abaixo de 0,5%. Qualquer valor acima disso fará com que o IPCA estoure o teto da meta.
Vamos aguardar agora o Relatório de Inflação, que sai no final do mês...