No Relatório de Inflação divulgado em julho o IPCA só convergeria para a meta no segundo trimestre de 2013, conforme o cenário base do Banco Central. No Relatório divulgado hoje houve uma pequena modificação em relação à convergência ainda em 2012: uma redução de 0,2% entre um relatório e outro. Isto é, dadas as hipóteses adotadas pelo modelo estrutural do BACEN, a inflação terminaria o quarto trimestre de 2012 em 4,7%, contra 4,9% previstos no relatório anterior. Como pode ser visto na tabela abaixo, a expectativa para inflação no fim de 2011 ficou em 6,4%. No relatório de julho esse valor era de 5,8% e a convergência para o centro da meta também se daria no segundo trimestre de 2013.
O relatório de setembro repetiu o que havia dito no parágrafo 18 da última ata do Copom, i.e., dado um "cenário alternativo", o aprofundamento da crise externa teria um impacto desinflacionário na economia doméstica. Nas palavras da autoridade monetária:
"Nesse cenário alternativo, a atividade econômica doméstica desacelera e, apesar de ocorrer depreciação da taxa de câmbio e de haver redução da taxa básica de juros, entre outros, a taxa de inflação se posiciona em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o supracitado efeito da crise internacional. Nesse contexto, considerando ainda projeções geradas por outros modelos, a projeção de inflação para 2011 se encontra em 6,4%, e em 4,7% para 2012. No terceiro trimestre de 2013, a projeção se posiciona em 4,8%".
O Banco Central ilustra o texto acima com o seguinte gráfico:
Há o reconhecimento de que entre um relatório e outro houve "elevação das expectativas de inflação". Isso é posto no seguinte parágrafo:
"A comparação das trajetórias apresentadas neste Relatório com as divulgadas no anterior – as últimas constantes da Tabela 6.3 – mostra que as projeções de inflação se elevaram, exceto para o último trimestre de 2012, no cenário de referência. Nesse cenário, a elevação nas projeções ao longo de 2011 reflete, de modo geral, taxas de inflação em meses recentes acima das projeções prevalecentes por ocasião da publicação do último Relatório. Para 2012, particularmente nos três primeiros trimestres, o movimento reflete, em parte, expectativas de inflação mais elevadas, bem como as trajetórias de taxa de câmbio e de juros distintas das que foram consideradas no Relatório de junho. Em relação ao primeiro e segundo trimestres de 2013, as projeções de inflação se mantiveram relativamente estáveis, mas acima das projeções do último Relatório. No cenário de mercado, as elevações nas projeções para 2011, 2012 e os dois primeiros trimestres de 2013, em relação aos valores constantes no Relatório de junho, refletem, em parte, mudanças nas trajetórias de taxas de juros e de câmbio consideradas".
Em outros termos, a convergência para a inflação em 2012/13 seria facilitada pelo movimento desinflacionário do cenário externo (leia-se: queda dos preços de commodities). Isso, mesmo a despeito de deterioração de expectativas, desvalorização cambial, redução da taxa de juros e descompasso entre oferta e demanda doméstica. É o que apontam os três cenários analisados pela autoridade monetária (o de referência, o de mercado e esse alternativo). Para resumir, o Banco Central espera contar com a desacelaração da economia mundial para ter a inflação no centro da meta - mesmo a despeito de todos os movimentos citados. Seria crível, leitor, essa posição da autoridade monetária?