
Como tenho ressaltado nesse espaço, baseado nos exercícios que tenho feito, o intervalo de juros, para fazer convergir a inflação para a meta, é de 11% a 14,5%. O limite mínimo, para fazer a taxa real de juros se aproximar da taxa neutra (aquela que não acelera a inflação), seria então de 11%. Desse modo, o Banco Central teria que elevar a taxa básica em mais 25 pontos-base na próxima reunião. Um ponto interessante nesse argumento é o fato de que as expectativas de inflação continuam em patamar elevado (ao redor de 6% para os próximos 12 meses), descoladas, portanto, do centro da meta. A principal causa para isso é o mercado de trabalho ainda apertado, o que alimenta uma taxa de crescimento dos salários acima da produtividade - ainda que os primeiros tenham recuado nos últimos meses -, pressionando os preços. Ademais, é importante ressaltar que o recuo da inflação, no acumulado em 12 meses, está muito relacionado ao grupo alimentos e bebidas, dada a boa safra de 2013, não sendo consequência (ainda) do aumento nos juros.
Nesse contexto, será importante avaliar a ata dessa reunião do Copom tendo em vista os seguintes fatores: i) como o autoridade monetária vê o crescimento da economia em 2014; ii) o equilíbrio no mercado de trabalho; iii) a resistência das expectativas, em patamar ainda elevado; iv) a resistência dos preços, a despeito do recuo analisado acima; v) o esforço fiscal, sinalizado pelo governo no último dia 20/02; vi) o cenário externo, em particular a continuação do tapering; vii) as defasagens envolvidas no processo de transmissão da política monetária. É, desse modo, uma ata crucial, posto que sinalizará o por quê do Comitê ter alterado o ritmo, bem como indicará o caminho para as próximas reuniões.
Em assim sendo, o processo de ajuste ainda é insuficiente, sendo necessário mais um aumento de 25 pontos-base, ao menos. A ocorrência dessa mudança na próxima reunião encerraria o processo de contração monetária, gerando a "parada técnica" na política monetária, para avaliar seus efeitos sobre a economia. A aguardar, portanto, se a ata do Comitê corrobora com esse argumento ou se já sinalizará o encerramento do ajuste em 10,75%.