O que estamos fazendo de nossas vidas?

"Você olha para trás e diz: 'eu fiz tudo que era possível de ser feito'. E completa: 'Se só deu para chegar até aqui, paciência'. Mas dá um alerta: 'continuo tentanto'. Porque já disse alguém famoso - não apenas por dizer isso - 'você pode aceitar falhar, o que você não pode aceitar é não tentar'. And here I´m, keep trying..."

O parágrafo meio louco, meio cheio de sentidos parece ter sido escrito por mim, mas não foi. O roubei de uma garota igualmente louca que conheci no ano passado, cheia de defeitos, mas com uma inteligência inigualável. Fomos amantes por um tempo. Nos odiamos por outro tanto tempo. Voltamos a nos falar. Novamente amantes. Até que boom: terminamos em definitivo. Tudo muito intenso, tudo muito cheio de orgasmos múltiplos... De parte a parte...

Mas, whatever, não, a crônica não é pornográfica - apesar de que com ela deveria sempre ser. O parágrafo que abre essas linhas me fez cair em uma outra questão nessa semana, bastante delicada, diga-se: o que estamos fazendo de nossas vidas? Ora, bolas! Nossa geração é a mais educada desde que a educação formal foi inventada. Dispomos de mais informação do que foi possível processar nos últimos 15 bilhões de anos antes de nós e, mesmo assim, cá estamos: "procurando empregos". "Voltamos a viver como há dez anos atrás?". Onde, sem internet, sem wi-fi, sem mpX, lá estávamos perdidos, sufocados pela lealdade à empresa.

E parece que cá estamos: no mesmo ponto. Temos todo o potencial de fazermos o que quisermos de nossas vidas, mas nos comportamos como se fossemos iguais aos nossos pais. Casamos, tivemos filhos, nos iludimos, nos divorciamos, nos embebedamos, caímos, voltamos ao mesmo ponto.  O que fizemos de diferentes?

Nossa sociedade continua educando - e continuará por muito tempo - nossos filhos e netos a serem empregados de alguém. Mesmo depois de quilos e quilos de "Marx for children" continuamos ensinando nossos jovens assim como nos ensinaram: explorar o valor de uso contido na força de trabalho. E sim: o capitalismo continua aumentando sua taxa de produtividade, década após década e se mentendo em mais confusão, dado que o ritmo de apropriação parece ser maior do que o ritmo de geração de mais-valia.

E não: eu não sou marxista, comunista, socialista... Só que ao contrário de muita gente (boa?) por ai, me dei ao trabalho de ler Marx. E, por isso, não me rendi a pedagogia boba que domina as escolas Brasil a fora, querendo construir o tal "cidadão consciente". E querendo atingir tal objetivo sacro, constrói nada mais nada menos do que uma geração de ignorantes. Uma geração que destesta estudar, detesta ler, prefere videogame, ouvir restart e quando entra na faculdade quer apenas o canudo e um bom emprego.

Nossa geração não dorme tranquila. Tinha tanto potencial, tanta informação, mas tão pouco senso crítico. Esquecemos de propor algo diferente e cá estamos: perdidos. E nem ao menos TENTAMOS fazer algo diferente. Simplesmente falhamos em nossos intentos. Aceitamos sermos derrotados sem nem ao menos entrar em campo.

Para exemplificar, às vezes me pergunto sobre o rumo dos meus colegas de escola. O que se tornaram? O que cada um seguiu na vida? Sei que um é médico bastante graduado, formado pela melhor escola de medicina que esse país tropical possui. Outra é uma brilhante engenheira, igualmente formada pela mesma escola. A maioria, nessa faixa que vai dos 27 aos 30 anos está casada, um percentual elevado (para o meu gosto) já tem filhos e uns tantos outros estão em vias de conceber um ou o outro compromisso.

Não sou aqui o Senhor da Razão ou algo que o valha. O que me incomoda e o que acho que deveria incomodar muita gente é essa mesmice em que a minha geração está sufocada. Queria ao menos que meus amigos de infância, aqueles que junto comigo tiveram as primeiras lições de vida, me ajudassem nesse momento. Mas pelo caminho que uns seguiram, me mantenho com os mesmos questionamentos. É uma espécie de fardo que carrego desde muito cedo: o que faremos de nossas vidas?

Hoje, infelizmente, ainda não tenho respostas para tal pergunta. Mesmo passados tantos anos, a única coisa que posso dizer é que os caminhos tradicionais - casamento, filhos, emprego em uma grande empresa etc. - não me servem de alento. Deveriam servir? E, se deveriam, por que não servem? Dado, então, o passar dos anos, aquela pergunta de início deve ser atualizada: o que estamos fazendo de nossas vidas?

Chega uma época na vida que o ser humano - todos nós - nos fazemos essa pergunta. Nos fizemos essa pergunta quando éramos pequenos e voltamos a nos fazer sob certo ponto da vida. Alguns chamam de crise de meia-idade ou coisa que o valha. Mas e durante esse meio tempo? O que levou meus amigos a escolherem os caminhos que escolheram? E o que não me levou a esses caminhos? Por que não segui a manada e fui junto? Por que permaneci me questionando sobre o que quero fazer da minha própria vida?

Talvez dentro da própria pergunta esteja a resposta: pertenço a algum tipo de maldição! Daquelas que envolvem uns poucos seres, que são "escolhidos" de forma aleatória para provar algum ponto de vista. Será? Rio de mim mesmo, porque se fosse verdade seria uma maldição coletiva. Isto porque, mesmo aqueles meus amigos que seguiram os caminhos pré-determinados não estão lá tão contentes assim. E mesmo com vinte e muitos anos vivem se perguntando o que estão fazendo de suas vidas. E assim é, o que nos motiva a fazer tais perguntas?

A geração anterior a minha lutou contra a opressão do regime militar, fumou maconha, gritou nos consertos de rock por cá e por lá, foi socialista e bla, bla, bla... Era mais fácil para eles. Existia uma revolta coletiva que os guiava, que os conformava sobre um ideal,  uma razão, um sentido mais nobre de vida. Isso, infelizmente, acabou quando o muro caiu. Talvez não com o muro, mas muito antes, quando o povo soviético tinha bombas atômicas e jatos supersônicos, mas lhe faltava comida e papel higiênico. Cá entre nós: deve haver algo errado quando um sistema econômico não consegue prover uma porra de um pedaço de papel higiênico. Mas isso é papo para outro texto...

O fato concreto é que o ideal da minha geração passou a ser um emprego. Um maldito emprego, veja você! Estudamos, fizemos faculdade, fizemos mestrado e doutorado. E, adivinha: não tinha emprego para todo mundo! Muitos amigos meus são malditos gênios no que fazem, mas estão desempregados ou, no máximo, subempregados.

E ai nos perguntamos: valeu a pena? Estudamos, fizemos tudo como manda o script, mas cá estamos nós ou desempregados, ou desiludidos, ou nos perguntando sobre o que estamos fazendo de nossas vidas. Eu acho que não, leitor amigo... O que, afinal, estamos fazendo de nossas vidas?

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